Por que o Soundgarden demorou mais para estourar na onda grunge, segundo Cornell

Banda surgiu antes dos nomes mais famosos da cena de Seattle, mas foi a última a fazer sucesso de fato, já no fim daquela era

Apesar de quase sempre ser encaixado na cena grunge de Seattle, o Soundgarden não teve trajetória similar à das bandas daquela safra. Até mesmo por ser um pouco mais velho: o grupo iniciou as atividades em 1984, mas só ficou “grande” de verdade cerca de 10 anos depois, coincidentemente no ano em que o estilo perdeu força comercial com a morte de Kurt Cobain, líder do Nirvana.

Desde seu álbum de estreia (“Ultramega OK”, de 1988), o grupo comandado por Chris Cornell chamou a atenção. Recebeu logo de cara uma indicação ao Grammy, na categoria Melhor Performance de Metal.

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Badmotorfinger (1991), terceiro disco, foi beneficiado pelo estouro do Nirvana e do Pearl Jam, embora tenha levado 15 meses para conquistar certificação de platina nos Estados Unidos. Caíram nas graças da animação da MTV “Beavis & Butt-Head”, embora fossem metal demais para os grunges e grunge demais para os metaleiros.

Mas foi só a partir de Superunknown (1994) que os números começaram a se aproximar de outras bandas, como Alice in Chains e os já mencionados Pearl Jam e Nirvana. Todos esses estouraram antes e venderam mais antes do Soundgarden, que, com seu quarto álbum, atingiu o topo da parada de quatro países (incluindo Estados Unidos) e, hoje, acumula 6 discos de platina em seu país natal.

A opinião de Chris Cornell sobre o estouro tardio

Chris Cornell tinha uma opinião sobre isso. Em entrevista de outubro de 1994, para a Request, o saudoso frontman refletiu sobre o destino menos grato de sua banda, que apesar de ter surgido antes, chegou ao estrelato depois de todo mundo. Ele disse:

“Dá pra dizer que essas outras bandas venderam mais que a gente porque não somos tão bons quanto elas. Ou falar que é porque somos melhores, que somos artistas de verdade, e não dá pra vender um monte de discos e ser artista de verdade. Ambos são extremos e eu não acredito em nenhum dos dois. Eu colocaria a gente no meio desse espectro. Não fazemos discos fáceis de vender, que você sabe o que está comprando e com o que está se conectando. Isso é uma coisa que tenho orgulho quando penso no Soundgarden. Que alguém de 15 ou 16, ou até 19 ou 20 anos comprando a nossa música está investindo em algo honesto. Que veio do coração dessa banda e se tornou parte deles e foi honesto.”

Ao mesmo tempo, Cornell também deixava claro que o Soundgarden queria, de fato, ser tão grande quanto as outras bandas da cena. Ele confessou isso em 2017, durante conversa com a Rolling Stone:

“Eu nunca me senti mal de ser agregado com outras bandas de Seattle. Eu achava ótimo. Mas eu também sentia que todos nós precisaríamos provar que conseguíamos existir de maneira autônoma, que merecíamos tocar em palcos pelo mundo, que merecíamos ter clipes na TV e canções no rádio, e que não era uma modinha como ‘British Invasion’ ou a ‘Cena noise de Nova York’.”

Soundgarden após “Superunknown”

Com o lançamento de “Superunknown” e a morte de Kurt Cobain em 1994 — tendo um mês de diferença entre os dois eventos —, o grunge começou a perder a força que teve desde o início da década. O Soundgarden ainda gravou “Down on the Upside” (1996) antes de encerrar as atividades em 1997. Apesar da expectativa, o álbum não repetiu o êxito comercial de seu antecessor direto.

O grupo voltou à atividade em 2010 para lançar um último disco, “King Animal” (2012). O fim dos trabalhos veio definitivamente em 2017, com a morte de Chris Cornell. Desde então os membros remanescentes da banda se reuniram algumas vezes em ocasiões especiais.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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