Em 2012, o Yes passava por um momento de incertezas na função de vocalista. Com problemas de garganta, Benoît David não conseguiu finalizar a turnê mundial divulgando o álbum “Fly From Here”, lançado no ano anterior. A saída se tornaria inevitável com o passar dos meses, fazendo com que a banda precisasse sair em busca de outro substituto para a função que até hoje possui apenas um titular aceito pelos fãs: Jon Anderson.
Taylor Hawkins possuía uma relação de admiração que se tornou amizade com os ídolos, especialmente o baixista Chris Squire. O membro do Foo Fighters acreditava conhecer o cantor ideal para as necessidades do grupo: seu amigo de infância Jon Davison, a quem conhecia desde os nove anos de idade.
Em entrevista à Classic Rock, o frontman lembrou:
“Taylor e eu nos conhecemos quando ele se mudou para meu bairro em Laguna Beach, Califórnia, por volta de 1981. Eu tinha dez anos e ele nove. Lembro de um garoto grato e feliz simplesmente por ter um amigo que morava na mesma rua. Rapidamente ficamos grudados. Como a maioria dos garotos da nossa geração, éramos obcecados por Star Wars. Minhas primeiras memórias são de sermos nerds de Star Wars, nos vestindo como os personagens e encenando cenas dos filmes.”
Os dois tiveram vários projetos musicais juntos, compartilhando os primeiros passos e o amor por Queen, Rush e The Police, entre outros.
Jon Davison, Yes e “Heaven & Earth”
A banda deu um voto de confiança ao instinto de Hawkins e chamou Davison para concluir a turnê. Entre abril e agosto, o quinteto percorreu Oceania, Ásia e América do Norte. Além de Davison e Squire, a formação reunia o guitarrista Steve Howe, o tecladista Geoff Downes e o baterista Alan White.
Após a aprovação do público, foi a hora de começar a trabalhar em um álbum. Para tal, Jon iniciou uma verdadeira peregrinação, compondo individualmente com cada membro. Das oito faixas de “Heaven & Earth”, o vocalista assinou sete em parceria com os outros integrantes.
Lançado em 16 de julho de 2014, foi o 21º álbum de estúdio da carreira do Yes. Além de marcar a estreia de Davison, foi o último com Chris Squire, que faleceria no ano seguinte em decorrência de um câncer. Seu substituto, Billy Sherwood, assinou a mixagem junto do produtor Roy Thomas Baker.
O disco chegou ao 20º lugar no Reino Unido e 26º nos Estados Unidos, melhor performance da banda nas duas principais paradas da indústria musical no século atual.
Lembranças de Taylor Hawkins
Jon Davison segue à frente do Yes até hoje. A amizade com Taylor permaneceu até o fim da vida do baterista, morto em 25 de março de 2022, durante turnê do Foo Fighters pela América do Sul. Na mesma entrevista já mencionada, o cantor recordou os últimos contatos.
“A última vez que nos vimos pessoalmente foi em 2019, quando o Foo Fighters fez um show em Dublin, na Irlanda, onde eu estava morando. Subi ao palco com eles e cantei ‘Under Pressure’, do Queen.”
Apesar da distância física, o significado da amizade foi conservado por ambos.
“Ligávamos um para o outro e conversávamos pelo menos uma vez por semana, só para nos comunicarmos e desejarmos o melhor em nossas aventuras. Eu sentia que Taylor realmente queria que eu fosse tão feliz e realizado musicalmente quanto ele era. Ele sempre foi muito leal ao fato de termos crescido juntos.”
A frequência de contato permitiu uma despedida – mesmo sem que soubessem – pouco antes da partida.
“Conversamos uns 10 dias antes de Taylor morrer, um pouco antes de ele ir para a América do Sul. Eu estava terminando uma turnê com John Lodge (The Moody Blues) e ele estava realmente animado por mim. Desejou boa sorte.”
Sendo assim, o que Davison guardará na memória para sempre está nas últimas palavras do amigo.
“Nós sempre terminávamos nossas longas conversas dizendo um ao outro: ‘Eu te amo’. E essas foram suas últimas palavras para mim: ‘Eu te amo’. Não posso realmente pedir mais nada, considerando tudo.”
Em 2019, Jon Davison participou de “Get the Money”, terceiro e último álbum do Taylor Hawkins & the Coattail Riders. Ele cantou na faixa de abertura, “Crossed the Line”.
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