Os ataques de ódio motivados por preconceitos deixam marcas indeléveis na vida das vítimas. Décadas se passam, mas a marca da agressão não apenas será carregada, como pode até mesmo gerar algum tipo de reação. Tom Morello foi uma dessas pessoas – e nunca esqueceu o que passou.
Em entrevista à mais nova edição da revista britânica Metal Hammer, o guitarrista do Rage Against the Machine e Audioslave lembrou alguns acontecimentos que o marcaram. Como quase tudo que ajuda a formar nosso caráter, as situações se deram nos anos formativos.
Ele disse:
“Minhas primeiras experiências com o racismo se deram no playground, bem cedo. Eu sempre soube que era diferente. Havia racismo passivo-agressivo de outras crianças, nascido de suas inocentes ignorâncias. Mas também passei por situações realmente maldosas: ouvir a palavra com ‘n’ não era incomum.”
Houve um momento específico em que a situação escalonou.
“Quando eu tinha 13 anos, uma corda em forma de forca foi colocada na garagem da casa da minha família. Libertyville era esse tipo de subúrbio bucólico e charmoso de Chicago por um lado, mas havia uma espécie de base de medo real.”
O repórter então perguntou a Morello se ele já havia se sentido realmente ameaçado pelo tratamento racista que recebeu.
“Claro. Quero dizer, olhando para trás, é apenas sua vida de certa forma, mas havia essa estática de fundo. Todos os dias havia a possibilidade do que agora é conhecido como microagressões e, às vezes, macroagressões.”
O artista garante que isso influenciou até mesmo a sua vida amorosa, especialmente no período em que esse tipo de sentimento é desperto.
“De repente, você chega à idade em que começa a namorar e o preconceito se torna muito mais gritante. Eu ficava na porta esperando para sair para um encontro e ouvia essas discussões acontecendo atrás da porta. Do nada, você sabe, minha pretendente teria ‘ficado resfriada’ ou algo assim.”
Tom Morello, racismo e estereótipos
Em 2021, Tom Morello falou abertamente sobre o preconceito racial de alguns grupos da comunidade do rock. Ao NME, refletiu:
“Há uma grande parcela do público que fica chocada e chateada quando me ouvem falar sobre autoidentificação como negro. Ficam a um passo de se sentirem ofendidos. Mas eu sou queniano, cara, o genuíno negro da África. Nem sempre é um preconceito malicioso, só que existe e está enraizado no DNA do Rock, apesar de ter sido inventado pelos negros. Não sei se as coisas melhoraram nos últimos anos, mas definitivamente havia uma barreira.”
O músico também falou sobre a luta para não ser estereotipado como um jovem guitarrista negro em particular.
“Eu costumava repudiar publicamente Jimi Hendrix porque, em cada show que fiz quando jovem, alguém na plateia gritava: ‘toque Foxy Lady!’. Ou: ‘toque com os dentes’. Essa era a suposição, porque havia apenas uma indicação do que um guitarrista negro poderia ser. Tive que me distanciar disso para ser o músico que queria ser. Felizmente, não é mais necessário agir dessa forma.”
“Soldier in the Army of Love”
Nas últimas semanas, Tom Morello lançou o single “Soldier in the Army of Love”. A música é uma parceria com seu filho, Roman, que gravou o solo de guitarra principal no registro.
A faixa antecede o próximo disco solo do artista. De acordo com o próprio, a obra terá sonoridade totalmente voltada ao rock. A ideia é que o material seja lançado até o fim deste ano.
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