No último mês de junho, o livro infantil “O Menino Marrom”, lançado por Ziraldo em 1986, havia sido suspenso nas escolas de Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais. Pais de alunos pressionaram as autoridades ao descreverem o conteúdo da obra como “agressivo”. A justiça logo reverteu a decisão e o material voltou às prateleiras.
Analisando o caso, Tony Bellotto disse que a atitude de censurar um livro não só é inaceitável como beira, em suas próprias palavras, o fascismo. O guitarrista do Titãs e escritor comentou a respeito durante entrevista a Felipe Branco Cruz para a revista Veja.
No bate-papo, com o intuito de divulgar seu novo projeto literário “Vento em Setembro”, o músico citou outro exemplo recente da prática e manifestou indignação:
“É terrível. Censurar livro é uma coisa do mais radical fascismo ou nazismo. Livro é expressão da liberdade. Essa censura por questão moral é hipocrisia, às vezes disfarçada de moral religiosa. É inaceitável. Temos de ficar atentos a isso. O mesmo ocorreu com o livro de Jeferson Tenório, no Rio Grande do Sul. Meu livro também é uma forma de mostrar minha indignação.”
O livro de Jeferson Tenório mencionado é “O Avesso da Pele”. Lançado em 2020, o romance tem como temas principais o racismo e a violência policial. No início do ano, a diretora de uma escola do Rio Grande do Sul reclamou das palavras de “baixo nível” presentes no enredo. Por isso, por pouco tempo, a obra ficou fora de circulação em instituições do Paraná e de Goiás. No fim, a Secretaria da Educação dos estados determinou o retorno.
Já em relação ao “O Menino Marrom”, conforme o G1, uma das reclamações envolvia um quase pacto de sangue realizado entre os protagonistas. No entanto, os dois meninos optaram por usar tinta no lugar. Há também uma fala negativa de um dos personagens sobre uma idosa que não aceitou ajuda para atravessar a rua. Porém, na história, a declaração não passa de um pensamento momentâneo do garoto.
Tony Bellotto e a literatura
Tony Bellotto fez sua estreia na literatura em 1995 com “Bellini e a Esfinge”, primeiro livro de uma série policial. Desde então, disponibilizou no mercado outras obras. “Vento em Setembro”, que sai nesta semana pela editora Companhia das Letras, aborda a busca de uma identidade.
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