O grande aprendizado que Andreas Kisser teve com a tribo Xavante

Colaboração com povo indígena gerou o álbum "Roots" (1996), um marco na carreira do Sepultura

Em 1995, o Sepultura fez um intercâmbio cultural de dois dias em uma aldeia do povo Xavante, no Mato Grosso do Sul. O resultado dessa interação pode ser conferido em seu álbum mais famoso, “Roots” (1996). Andreas Kisser, porém, garante que os integrantes da época aprenderam mais do que apenas música com os indígenas.

Em entrevista a Sarah Oliveira para o programa Minha Canção, da rádio Eldorado, o guitarrista relembrou a colaboração com os Xavante. Na ocasião, explicou que a relação dos povos nativos com a natureza e com o tempo foi o que mais chamou a atenção.

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Conforme transcrição do site IgorMiranda.com.br, Kisser disse:

“Quando a gente foi para os Xavante, o relógio, por exemplo, me perdeu todo o sentido. Para que a gente usa relógio? O tempo na tribo dos Xavantes tem outra perspectiva do que na cidade, por exemplo. De ter que acordar, ter que desligar o despertador, tomar café e não sei o quê. Você estava lá com os caras e não sabia se eram três da tarde ou se eram, sei lá, onze da manhã. Você tinha uma outra perspectiva.”

Em abril de 2024, Andreas conversou com Thuanny Judes, para a revista Noize. Na ocasião, ele também citou a questão do tempo na aldeia, além do modo de vida dos habitantes locais.

O músico afirmou:

“A gente passou dois dias na aldeia, no Mato Grosso do Sul. E cara, foi uma experiência fantástica de ver outro formato de vida, de sair um pouco daquela coisa da selva de pedra, do relógio, do tempo. Eu lembro de ter uma outra percepção do tempo. O relógio perdeu todo sentido ao ver como eles se relacionavam com a natureza. Acho que o Sepultura sempre trouxe isso por ser uma qualidade. Temos muita influência dos povos originários na nossa cultura, gastronomia, vocabulário.”

Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura (foto: Gustavo Diakov / @xchicanox)

Intercâmbio exclusivamente musical

No papo com Sarah Oliveira, Andreas disse que as influências de música brasileira mais perceptíveis começaram ainda antes da experiência com o povo Xavante, no álbum anterior: Chaos A.D. (1993). O guitarrista citou uma faixa instrumental cujo título é inspirado em outro povo indígena do Brasil.

Ele explicou:

“No ‘Chaos A.D.’, antes, em 1993/1994, a gente já tinha feito uma música bem brasileira, com influência de música sertaneja, com viola caipira, que é a ‘Kaiowas’, que é o nome de uma tribo, a Kaiowá.”

Nas duas entrevistas, Kisser também deixou claro que a interação com os Xavante teve uma motivação puramente cultural, sem política por trás. Na época, meados dos anos 90, assuntos como reforma agrária e demarcação de terras indígenas estavam em alta e poderia se fazer a associação de que o Sepultura se aproveitou do “hype”.

O músico nega e traz fatos que corroboram com sua afirmação:

“A gente foi num intuito cultural, musical. Tanto é que a gente não foi para lá através da Funai (Fundação Nacional do Índio) e nenhum órgão oficial, porque era muito burocrático, enfim… tudo o que envolve a burocracia de mexer com alguma coisa oficial aqui no Brasil. Então a gente teve um outro caminho, através de uma ONG que cuida da participação e dos interesses dos Xavante, e diretamente a gente negociou, foi para lá, organizou tudo, ficamos dois dias lá, a gravação e etc. E foi uma experiência maravilhosa.”

O guitarrista acrescentou, na fala à Noize:

“Fomos para lá e trocamos ideias musicais. A gente queria entender um pouco da pintura, o que que eles usam para pintar o rosto, o que que eles comem, qual a relação deles com futebol.”

O resultado desse intercâmbio foi o álbum mais lembrado e cultuado do Sepultura. Apesar de ter representado uma ruptura – o vocalista e guitarrista Max Cavalera saiu logo após a turnê –, “Roots” mudou a sonoridade do grupo dali em diante, além de ter influenciado o metal em todo o mundo a partir da segunda metade dos anos 1990.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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