Alan Parsons teve a oportunidade singular de trabalhar com os Beatles. Ao longo de 1969, o produtor conviveu de perto com a banda ao colaborar como assistente de som nos últimos álbuns gravados e lançados pelo quarteto: “Abbey Road” (1969) e “Let It Be” (1970).
Enquanto a produção dos discos acontecia, o próprio, que também entrou em estúdio com o Pink Floyd, tinha consciência de que a experiência era única e histórica. Durante conversa com o músico Rick Beato, transcrita pela Guitar, o profissional relembrou o período.
Ele disse:
“Acho que acabei com as duas bandas mais experimentais de todos os tempos, Beatles e Pink Floyd. Ambos eram famosos por seus sons experimentais. E eram os Beatles, claro, foi histórico. Eu aproveitei cada momento e pensei: ‘essa é a melhor experiência que já tive’.”
Apesar de ter saído depois, a gravação de “Let It Be” ocorreu antes de “Abbey Road”. À época do primeiro mencionado, segundo o produtor, havia um distanciamento maior entre a equipe. Porém, a criação do outro disco já contou com muito mais aproximação e contato:
“Não interagi muito com eles. Não nos dias de ‘Let It Be’. Mas no verão seguinte, fizemos ‘Abbey Road’ e foi muito mais íntimo, houve muito mais envolvimento entre a gente. É difícil para mim imaginar que eu estava lá. Foi um momento mágico.”
A renegada “Maxwell’s Silver Hammer”
Uma lembrança marcante para Alan envolve a faixa “Maxwell’s Silver Hammer”. Em suas palavras, John Lennon, George Harrison e Ringo Starr não estavam muito convencidos de usá-la, mas cederam por insistência de Paul McCartney — o único que parecia enxergar potencial na composição.
Parsons comenta:
“Eu meio que lembro que ‘Maxwell’s Silver Hammer’ não agradou muito os outros três. Mas Paul insistiu nela. Eu achei que ele fez um ótimo solo de Moog na música. Nós realmente tentamos uma introdução com eco, mas foi arquivada. Não funcionou.”
Alan Parsons e outras memórias com os Beatles
Alan Parsons compareceu à apresentação final dos Beatles. Em 30 de janeiro de 1969, o quarteto fez seu último show público de maneira histórica no telhado da Apple Corps, em Londres, na Inglaterra.
Por ter ficado boa parte do tempo atrás de uma das câmeras, o produtor aparece pouco nos registros da performance. Porém, ele não só marcou presença, como ainda tem uma curiosa história do momento.
A fim de minimizar o ruído do vento, o então assistente foi até uma loja de departamento, onde comprou meias-calças femininas para colocar nos microfones.
Durante uma entrevista em rádio em 2019, ele destacou a ocasião. Conforme transcrito pela Ultimate Guitar, contou:
“Cometi o erro de ficar atrás de uma câmera, o que significa que há poucas filmagens comigo. Mas há algumas fotos raras do show no terraço, encontradas online, que dá para me ver. Estou usando uma camisa laranja bem na moda com uma gravata preta.”
Durante o mesmo bate-papo, o profissional discutiu a respeito dos momentos vividos ao lado do quarteto e descreveu novamente a experiência como “incrível”. Também mencionou a parceria posterior com Paul McCartney.
Ele disse:
“Aquela época era o começo para mim, eu estava no fundo do poço. Cheguei no estúdio do porão da Apple e lá estavam todos os quatro Beatles, além de George Martin, Glyn Johns, Yoko Ono e Linda Eastman. Foi um momento bem intimidador quando eu entrei e disse, ‘olá, eu sou Alan e serei o assistente’, E eles me receberam muito graciosamente. Eu não tive nenhuma contribuição criativa no processo de gravação de ‘Let It Be’ ou ‘Abbey Road’. Mas toda a experiência, toda a energia de estar lá, gravando com os Beatles, foi uma experiência inesquecível. Depois da experiência com os Beatles, continuei trabalhando bastante com Paul McCartney. Trabalhei em seu álbum [solo] ‘McCartney’ e depois colaborei em singles como ‘Hi, hi, hi’, ‘C Moon’ e o álbum ‘Red Rose Speedway’.”
Sobre o produtor
Alan Parsons foi engenheiro de som em “Atom Heart Mother” (1970) e “The Dark Side of the Moon” (1973), do Pink Floyd. Como mencionado, atuou como assistente de som em “Abbey Road” (1969) e “Let It Be” (1970) dos Beatles. Voltaria a trabalhar com Paul McCartney em dois discos do Wings: “Wild Life” (1971) e “Red Rose Speedway” (1973).
Como artista solo, seu trabalho mais recente é “From the New World”, disponibilizado ano passado através do selo italiano Frontiers Music.
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