O curioso raciocínio que mostra a diferença entre John Lennon e Paul McCartney

Dupla mudou a história do universo pop baseada em diferenças que complementavam visões e habilidades

Não é segredo, a esta altura da história, que John Lennon e Paul McCartney eram pessoas muito diferentes. A parceria emblemática, que mudou a história da música popular, era baseada em distintas visões que se complementavam em amplos aspectos e assuntos. E foi justamente nelas que a obra criada por ambos alcançou sucesso.

Em entrevista de 1986 à Rolling Stone, o vocalista e baixista dos Beatles contou como as personalidades se chocavam. Para exemplificar, falou sobre o comportamento autodestrutivo do amigo quando passou a usar heroína, droga que ele garante ter evitado por ter noção do que poderia desencadear.

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Disse o músico:

“Sim, eu realmente não gostei disso. Infelizmente, John estava se afastando de todos naquele momento, então nenhum de nós sabia de fato. Ele nunca nos contou. Ouvimos rumores e ficamos muito tristes. Mas ele embarcou em um novo curso, que realmente envolvia tudo e qualquer coisa. Porque John era esse tipo de cara – ele queria viver sua vida ao máximo como a percebia. Costumava dizer coisas como: ‘se você se encontrar na beira de um penhasco e se perguntar se deve pular ou não, arrisque’. Eu tenho medo e sempre digo: ‘não, cara, eu não vou pular do penhasco, não importa o quão bom possa ser’.”

Lennon tentou até mesmo convencer Macca a fazer algo fora das compreensões normais, que deixaria muito músico de black metal que queima a testa com cruz invertida apavorado.

“Lembro que jantamos uma noite – apenas um jantar amigável, apenas sendo amigos – e lembro de John dizendo que estava pensando em fazer essa coisa de trepanação: perfurar um buraco no crânio. Os romanos ou os gregos ou alguém costumava fazer, então isso deu validade em sua mente, acho. E ele perguntou: ‘Você toparia isso? Você gostaria de fazer isso? Nós poderíamos ir lá e fazer isso’. Questionei: ‘por quê?’ Ele respondeu: ‘alivia a pressão no seu cérebro’ e eu disse: ‘olha, você vai tentar e se for ótimo, me conta, talvez eu faça’.”

Beatles e as experiências com drogas

A negativa não gerou qualquer arrependimento, como já poderíamos prever. Ainda assim, Paul reconhece ter ficado constrangido.

“Esse era o tipo de coisa que estava circulando naquela época. Eu me sinto muito sortudo por ter dito ‘não’ a tudo isso. Na época me senti mal em recusar, pensei: ‘oh, aqui vou eu de novo, olhe para mim, sem aventura, eu sou sempre o único, eles vão tirar sarro de mim’. Quer dizer, eu já tinha sofrido muita pressão quando não tomei ácido na primeira vez. Agora, olhando para trás, penso que fui muito corajosos para realmente resistir àquela pressão dos colegas.”

Falando abertamente sobre o tema, McCartney recordou o medo da primeira “viagem” do Fab Four.

“Na época, eu me senti realmente bonzinho, sabe: ‘ei, Sr. Limpo, completamente limpo’, sabe? Era como: ‘ah, vamos lá, rapazes, eu não sou realmente completamente limpo, mas, você sabe, ácido talvez vá acabar com nossas cabeças’.”

A coisa mudou de figura com o LSD.

“Na verdade, John tomou por engano uma noite. Nós fomos para uma sessão no Abbey Road e ele pensou que tinha tomado uma pílula estimulante – speed, ou algo assim – para acordá-lo para a noite, mas era ácido. Ele tinha uma caixinha de comprimidos e pegou a pílula errada. Isso foi na época do ‘Sgt. Pepper’. Bem, não fizemos muita coisa naquela noite. John disse: ‘caramba, estou viajando’. E todos nós dissemos: ‘ahhh… ok, fique tranquilo, rapaz… agora, este é um bom lugar para viajar?’ Ele disse: ‘não, na verdade não’.

George Martin não entendeu. Nós dissemos: ‘George, John não está se sentindo muito bem’ – então George o levou para o telhado! Nós dissemos: ‘talvez não seja uma boa ideia, George’. Falei: ‘é o seguinte, vou levá-lo para casa’. E foi o que fiz. Essa foi minha primeira viagem, naquela noite, porque eu pensei, você sabe, eu não posso deixar o cara sozinho – ele estava todo aowooommm…”

John Lennon e Paul McCartney

Entre 1962 e 1970, a parceria Lennon-McCartney registrou em torno de 180 composições. Elas não foram gravadas apenas pelos Beatles, com vários outros artistas se beneficiando da colaboração. Mesmo quando passaram a escrever separados, os dois mantiveram o trato feito antes da fama de dividir créditos – o que só se extinguiu com o fim da banda.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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