Desde o início da carreira os Beatles tiveram como uma de suas características as harmonias vocais. Porém, justamente no último álbum gravado – embora não o último a ser lançado – a situação evoluiu a outro patamar. E foi bem quando aconteceu um sofrimento para alcançar o objetivo.
“Because” faz parte de “Abbey Road” (1969). Ela foi registrada entre 1º e 5 de agosto do ano em que o disco saiu.
Um tempo bem longo para os padrões da época. Mas necessário, especialmente por conta da ideia de contar com três harmonias vocais de cada um dos integrantes da linha de frente – John Lennon, Paul McCartney e George Harrison – totalizando nove pistas.
Em declaração a Peter Scheff, Lennon contou como Yoko Ono influenciou a composição. Ele disse, conforme resgate do American Songwriter:
“Estava deitado no sofá de casa e Yoko tocava a ‘Sonata ao Luar’, de Beethoven. Ela teve formação clássica. Eu perguntei: ‘Você consegue tocar esses acordes ao contrário?’ e escrevi ‘Because’ em volta deles. A letra fala por si só, é clara. Sem besteira. Sem imagens, sem referências obscuras.”
Em 1992, a própria Yoko falou ao American Songwriter sobre como John modificou o que lhe foi mostrado.
“Quando você realmente ouve a música, percebe que ele tocou os acordes ao contrário em um primeiro momento. Eventualmente ela foi se moldando um pouco mais ao formato pop. No fim, ele acabou não usando todos os acordes. Mas essa foi a inspiração inicial.”
A importância de Ringo Starr em “Because”
Os Beatles a gravaram com George Martin tocando o cravo elétrico e Geoff Emerick como engenheiro. Como a música é a única em “Abbey Road” sem bateria, Ringo Starr não toca nem canta nela.
No entanto, sua contribuição foi vital. Para manter o ritmo durante a gravação da faixa básica da guitarra de Lennon, do baixo de McCartney e do cravo de Martin, Ringo serviu como metrônomo humano, como o produtor relembrou em seu livro “All You Need Is Ears”.
“Criamos uma faixa base com John tocando um riff na guitarra, eu duplicando cada nota em um cravo eletrônico e Paul no baixo. Cada nota entre a guitarra e o cravo tinha que estar exatamente no mesmo compasso. Como eu não sou o melhor músico do mundo em termos de tempo, cometia mais erros do que John. Então, tínhamos Ringo tocando uma batida regular para nós através de nossos fones de ouvido.”
A harmonia vocal de “Because” foi reutilizada em “Now and Then”, última música do Fab Four, disponibilizada em 2023.
Beatles e “Abbey Road”
Décimo primeiro álbum dos Beatles, “Abbey Road” não foi o último lançado, mas marcou a derradeira reunião dos quatro músicos em estúdio. A proposta era resgatar o clima dos primeiros anos, após as malfadadas sessões de “Let It Be”, que a médio prazo acabariam por causar a implosão da banda.
A sonoridade intensifica a aproximação com o rock progressivo, além de experimentos como o feito por Paul McCartney no medley que encerra o tracklist.
Vendeu mais de 31 milhões de cópias em todo o mundo. Chegou ao topo de várias paradas mundiais, incluindo Estados Unidos e Reino Unido.
A capa foi feita em uma sessão com o fotógrafo britânico Ian MacMillan. Como resultado, até hoje ninguém mais atravessa aquela rua de forma convencional. Também é a única em que o nome da banda e do álbum não aparecem.
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