O segredo para Paul McCartney ter conseguido fazer as pazes com John Lennon

Harmonia foi restabelecida anos antes de o parceiro dos Beatles ter sido assassinado em 1980, aos 40 anos

A relação entre John Lennon e Paul McCartney gerou a parceria mais icônica da história da música. Ainda assim, após o fim dos Beatles, as coisas ficaram estremecidas por alguns anos. Por sorte, antes de o primeiro ter sido assassinado em 1980, a amizade pôde ser restaurada, embora os compromissos profissionais e pessoais não tenham permitido uma maior interação.

Em 1986, durante entrevista à Rolling Stone, o baixista e vocalista do Fab Four falou sobre o tema. Inicialmente, reconheceu que a mágoa após o desfecho do grupo estremeceu de forma grave a harmonia, gerando um afastamento que parecia quase definitivo.

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Ele disse:

“Estávamos submersos em problemas comerciais na época. Havia uma amargura incrível. Em um ponto, para obter alguma paz, eu disse aos meus advogados que queria dar a John uma indenização que ele estava buscando contra uma certa cláusula em um dos contratos da Apple. Eu disse: ‘Alguém tem que dar o primeiro passo. Eu adoraria ser a voz da razão aqui’. Aconteceu de eu estar a caminho do Caribe, então, passando por Nova York, liguei para John. Mas havia muita suspeita, embora eu tenha vindo carregando o ramo de oliveira.

Eu disse: ‘Ei, eu gostaria de ver você’. Ele disse: ‘Para quê? O que você realmente quer?’ Foi muito difícil. Finalmente… ele teve uma ótima fala para mim, ele disse: ‘Você é total pizza e contos de fadas’. Ele tinha se tornado meio americanizado naquela época, então o melhor insulto que eu poderia pensar foi responder: ‘Ah, vá se f*der, Kojak’, e bater o telefone. ‘Pizza and fairy tales’ – quase fiz disso um título de álbum. Essa era a força do nosso relacionamento naquela época – muito, muito amargo – e não superamos por muito, muito tempo.”

A paz e o assassinato de John Lennon

Ainda assim, uma trégua foi estabelecida, na medida do possível. Ainda bem, Paul reconheceu, tendo em vista o que aconteceria em 8 de dezembro de 1980.

“Graças a Deus, no finalzinho, de repente percebemos que tudo o que tínhamos que fazer era não mencionar a Apple se ligássemos um para o outro. Poderíamos falar sobre as crianças, sobre os gatos dele, sobre escrever músicas — a única coisa mais importante era não mencionar a Apple. Então, os últimos telefonemas que tivemos estavam ficando muito bons. Lembro que uma vez ele me perguntou: ‘Eles me colocam contra você como colocam você contra mim?’ Porque sempre havia pessoas no fundo nos colocando uns contra os outros. E eu disse: ‘Sim, eles colocam. Com certeza colocam’. Isso foi alguns meses antes de ele… ainda é estranho até mesmo dizer, ‘antes de ele morrer’. Ainda não consigo aceitar isso. Ainda não acredito. É como, você sabe, aqueles sonhos que você tem, onde ele ainda está vivo; então você acorda e… ‘Oh’.”

A seguir, Macca refletiu sobre os momentos derradeiros do colega e concluiu:

“Foi tudo tão trágico. Mas eu me sinto grato que os últimos anos da vida dele foram muito felizes, pelo que pude perceber. John sempre foi um cara muito caloroso. O blefe dele era todo na superfície. Ele costumava tirar os óculos — aqueles óculos de vovó — e dizer: ‘Sou só eu’. Eles eram como uma parede, sabe? Um escudo. Esses são os momentos que eu valorizo. Acho que nós machucamos um ao outro e coisas assim, mas eu continuo olhando para todas as evidências de como eu o machuquei, e eu não sei — não parece tão ruim quanto acho que ele estava fazendo parecer.”

O fim dos Beatles e a culpa de Paul McCartney

McCartney não se esquivou, no entanto, de falar sobre como Lennon se tornou amargurado no período em que estiveram separados. Especialmente tendo em vista as reações do parceiro.

“Acabei de ler sobre essa coisa que está à venda na Sotheby’s — esse livreto da Apple com os comentários de John nas margens, escritos à mão. É tão amargo. Tipo, tem uma foto do meu casamento com Linda — John riscou ‘casamento’ e escreveu ‘funeral’. Acho que começa a dar para perceber aí. Outra legenda diz: ‘Paul vai para Hollywood’ — e então ele aparentemente escreveu na margem: ‘Para cortar Yoko e John do filme’. Ele sempre pensou que estávamos tentando cortar Yoko das coisas, cortá-la de ‘Let It Be’. Acho que estávamos, em algum grau; porque ela não estava nos Beatles e era um filme dos Beatles, não era absolutamente necessário ter longas cenas dela. Ela certamente estava lá, mas obviamente eles achavam que deveriam aparecer um pouco mais como casal. Eu me curvei, tentando ver o ponto de vista de John. E me curvei ainda mais para tentar não difamá-lo.”

Ainda assim, quando o fim dos Beatles efetivamente aconteceu, a culpa caiu sobre seus ombros, embora garanta ter sido uma decisão de John que ele apenas se apressou em comunicar ao mundo.

“Não foi agradável. Muitas das acusações que John fez em público foram um pouco selvagens. Quer dizer… talvez devêssemos ter aceitado Yoko um pouco melhor. Muitas vezes não me sinto muito inteligente por não aceitar ela, porque não nos dávamos muito bem. Ela era muito diferente de tudo que tínhamos encontrado. Muitas pessoas ainda a acham um pouco difícil de aceitar. Eu imagino, bem, ele a amava, então não tem nada a ver comigo — eu deveria respeitá-la através dele. E eu senti que tentei fazer isso. Mas estávamos tão colocados um contra o outro que sua amargura irracional era quase inevitável, eu acho. É uma pena que ele se sentisse assim. Mas o ponto principal é que nos amávamos. E estou feliz por estar voltando a alguma aparência de sanidade com George e Ringo agora — podemos nos encontrar, nos abraçar e dizer que nos amamos, sabe?”

Reunião sem John Lennon

Após a morte de John Lennon, os Beatles remanescentes se reuniriam nos anos 1990 para o projeto “Anthology”. Sem George Harrison desde 2001, Paul McCartney e Ringo Starr seguem envolvidos em projetos do grupo, aproveitando o que ainda resta a ser explorado de registros que já ultrapassam meio século.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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