A pessoa que atrapalhou a carreira do Guns N’ Roses, segundo Axl Rose

Movimento de ativista conservadora prejudicou a banda e toda a cena pop/rock americana dos anos 1980

Na metade dos anos 1980, o Parents Music Resource Center (PMRC) começou uma verdadeira caçada contra artistas que um grupo de conservadores fundamentalistas considerava ameaça à moral e os bons costumes da “família tradicional” – aquela que, no sigilo, faz tudo que se diz contra em público.

A figura central era Tipper Gore, advogada e esposa de Al Gore, vice-presidente dos Estados Unidos entre os anos de 1993 e 2001. Líder da cruzada, ela foi vista como uma espécie de vilã junto ao cenário da música pop e do rock na década.

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O Guns N’ Roses foi vítima em seu álbum de estreia, “Appetite for Destruction” (1987). O conteúdo gráfico e o lírico serviram para diferenciá-los na cena, mas também trouxe consequências.

Não à toa, essa foi uma das preocupações de Axl Rose ao escrever a sequência, a dobradinha “Use Your Illusion” (1991). Em depoimento resgatado pelo Far Out Magazine, o vocalista e compositor declarou:

“Temos orgulho da nossa obra. O único problema que tivemos foi por causa de Tipper Gore e seu trabalho de colocar adesivos nos álbuns. Isso realmente nos atrapalhou, eu acredito.”

Guns N’ Roses e Tipper Gore

Em 2005, durante entrevista retrospectiva à Hit Parader, Axl voltou a refletir sobre o tema. E deixou claro ter considerado a situação surreal.

“É difícil acreditar que a Sra. Vice-Presidente (nota da redação: ela nunca foi vice-presidente) realmente teve um impacto no Guns N’ Roses. Os esforços dela realmente prejudicaram nossas vendas nos Estados Unidos. Toda essa coisa de adesivos teve efeito porque grandes redes como K-Mart e Walmart, que representam 50% das comercializações de uma banda, nem sequer vendiam nossos álbuns.”

Pode parecer um exagero, mas Rose reflete que nem todo jovem tinha acesso a lojas especializadas em discos. E se cita como exemplo.

“Você tem que perceber que certas famílias de renda baixa não deixam seus filhos fazerem compras em qualquer lugar. Quando eu estava crescendo, éramos uma família K-Mart, então falo por experiência própria. Você comprava coisas no K-Mart porque era um pouco mais barato.”

Para o cantor, assim como para colegas que foram à esfera pública lutar contra o movimento, a ação foi o primeiro passo para a instalação de um censura real. Mesmo que, com o passar dos anos, o discurso tenha sido amenizado.

“Acho que o fato de Tipper Gore estar mais perto do poder é algo com que teremos que lidar. Acho que os Gores amenizaram seu ato para conseguir o voto, mas não esqueci o que ela fez. Ela atingiu seu objetivo – primeiro os álbuns tinham que ser etiquetados, depois as lojas não venderiam álbuns etiquetados.”

PMRC e “The Filthy Fifteen”

O PMRC foi criado por quatro mulheres chamadas de “Washington Wives”, ou “Esposas de Washington”, em referência às posições ocupadas por seus maridos em Washington, capital dos Estados Unidos.

Foram elas: Tipper Gore (esposa do senador e futuro vice-presidente Al Gore); Susan Baker (esposa do secretário do Tesouro, James Baker), Pam Howar (esposa de Raymond Howar, corretor de imóveis de Washington) e Sally Nevius (esposa de John Nevius, ex-presidente do conselho municipal de Washington).

O grupo se dissolveu no início dos anos 1990, mas deixou várias marcas. A mais visível foi a criação de um selo a ser colocado nas capas de discos com mensagens “impuras” – o que acabou se tornando um fetiche dos músicos, pois se tornava garantia de interesse público e, consequentemente, mais vendas.

Eis as 15 canções do “The Filthy Fifteen” e suas mensagens de acordo com o PMRC:

  • Prince – “Darling Nikki” (sexo e masturbação)
  • Sheena Easton – “Sugar Walls” (sexo)
  • Judas Priest – “Eat Me Alive” (sexo e violência)
  • Vanity – “Strap On ‘Robbie Baby’” (sexo)
  • Mötley Crüe – “Bastard” (violência e linguagem obscena)
  • AC/DC – “Let Me Put My Love Into You” (sexo)
  • Twisted Sister – “We’re Not Gonna Take It” (violência)
  • Madonna – “Dress You Up” (sexo)
  • W.A.S.P. – “Animal (F**k Like a Beast)” (sexo, linguagem obscena e violência)
  • Def Leppard – “High ‘n’ Dry (Saturday Night)” (uso de drogas e álcool)
  • Mercyful Fate – “Into the Coven” (ocultismo)
  • Black Sabbath – “Trashed” (uso de drogas e álcool)
  • Mary Jane Girls – “In My House” (sexo)
  • Venom – “Possessed” (ocultismo)
  • Cyndi Lauper – “She Bop” (sexo e masturbação)

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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