O raro elogio de Noel Gallagher ao irmão Liam

Guitarrista destacou a qualidade vocal do desafeto e ex-parceiro de Oasis, considerando-a melhor do que ele mesmo pode oferecer

O aniversário de 30 anos do álbum “Definitely Maybe” (1994), estreia do Oasis, fez com que Noel Gallagher revisitasse o passado. Como não é incomum acontecer em situações do tipo, o guitarrista e principal compositor da banda pôde enxergar vários aspectos de forma diferente em comparação a quando se está no olho do furacão.

Sobrou espaço até para um elogio a seu irmão, Liam Gallagher. Em entrevista promocional a John Robb, o músico reconheceu que o desafeto familiar era capaz de oferecer uma performance da qual o próprio não seria capaz em várias canções do repertório.

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Ele começou dizendo, conforme transcrição do Ultimate Guitar:

“Gostaria de pensar que fui inteligente o suficiente para dizer que deveríamos ter dois vocalistas, mas não fui — em retrospecto, acabou sendo ótimo do jeito que foi. Ele cantava todas as músicas e então eu dizia: ‘Talvez você não esteja pegando essa direito, talvez eu tente essa’.”

E foi assim que Noel acabou cavando alguns espaços para se colocar como cantor no cenário.

“Uma das coisas boas sobre o Oasis é que depois de 40 minutos de show tudo meio que se acalmava e eu cantava ‘Talk Tonight‘ e ‘Half The World Away‘. E elas não são músicas menores, são incríveis hinos populares. Todo mundo podia respirar.”

De qualquer modo, o momento intimista não o fez pegar apreço por um aspecto: o violão.

“Eu costumava me recusar a tocar violão. Nunca fizemos ‘Wonderwall‘ com violão ao vivo para começar, porque eu dizia ‘Não vou tocar violão em um estádio, fica ridículo’. Mas, de fato, não tocar ela assim que é ridículo.”

Noel Gallagher e os vocais de Liam Gallagher

Na hora de falar sobre a performance do irmão, Gallagher não se faz de rogado e abandona as mágoas. Como bom beberrão, sobra até espaço para uma comparação etílica.

“Se músicas fossem bebidas, Liam é uma dose de tequila e eu sou meia Guinness. Ou melhor, eu represento meia Guinness numa terça-feira. Já Liam é dez doses de tequila numa sexta-feira à noite.”

Tomado de surpreendente modéstia, Noel reconhece até mesmo que não consegue interpretar algumas faixas do repertório.

“Eu não consigo cantar ‘Slide Away‘, ‘Cigarettes And Alcohol‘, ‘Rock N’ Roll Star‘ e ‘Columbia‘. Quer dizer, até conseguiria, mas não seria a mesma coisa. É a entrega, o tom da voz dele e a atitude. Eu não tenho a mesma pegada. Na noite em que fizemos ‘Supersonic‘… eu canto com a mesma melodia, as mesmas palavras, as mesmas inflexões, mas quando Liam canta fica um pouco mais ameaçadora.”

Oasis, a banda romântica e ameaçadora

Outro aspecto que o guitarrista considera preponderante no sucesso do grupo foi a capacidade de soar melódico e agressivo ao mesmo tempo, alternando ou mesclando as tonalidades quando necessário.

“Eu acho que uma das coisas boas sobre aquele período do Oasis é que há essas músicas edificantes com letras quase românticas, mas com uma entrega realmente ameaçadora. Eu acho que é isso que torna tudo especial. É difícil de explicar. Quando eu cantava uma música, ela soava bem, quando ele cantava, ela soava ótima.”

Ele finaliza despejando mais elogios sobre o irmão, além de exaltar o que considera a mágica que só a relação fraterna pode oferecer.

“Liam é um grande roqueiro. Meu ponto forte sempre foi um pouco menos de grande produção – mais relaxado… ele não cantava músicas acústicas, simplesmente não gostava. Está no volume 9 ou 10 o tempo todo. E no caso de ‘Definitely Maybe’, é isso que você quer.”

Sobra até espaço para uma comparação inusitada.

“A voz é um instrumento. É o mesmo que acontece com os Bee Gees – quando você tem dois irmãos cantando juntos, é único. No começo dos anos 90 era incrível.”

Os 30 anos de “Definitely Maybe”

No próximo dia 30 de agosto o Oasis lança a edição comemorativa de 30 anos de “Definitely Maybe”. Detalhes completos sobre o conteúdo presente na nova versão podem ser conferidos clicando aqui.

À época do lançamento original, o álbum chegou ao topo da parada no Reino Unido, faturando disco de platina óctupla pelas vendas acima de 2,4 milhões de unidades. No mundo todo, teve mais de 8,5 milhões de cópias comercializadas.

Recentemente, Liam Gallagher fez uma turnê britânica celebrando o disco. Uma reunião da banda que registrou o trabalho segue sendo um sonho dos fãs, embora os protagonistas se recusem a dar o braço a torcer.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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