Por que o Pearl Jam nunca lançou “Black” como single nem gravou clipe

Apesar de não ter saído no formato promocional, música chegou a entrar em paradas e ganhou premiações, inclusive no Brasil

O Pearl Jam lançou quatro singles em promoção ao seu álbum de estreia, “Ten” (1991): “Alive”, “Even Flow”, “Jeremy” e “Oceans”. Várias outras caíram no gosto dos fãs, mas nenhuma tanto quanto a balada “Black”.

Houve uma certa pressão da gravadora para que ela também saísse no formato e ganhasse um videoclipe. Todavia, a banda resistiu às investidas.

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Em 2001, a revista Spin ouviu os músicos e o empresário Kelly Curtis, que trabalhou mais de 30 anos com o grupo. Eles explicaram o motivo de terem recusado a proposta, mostrando que não estavam dispostos a sacrificar rigorosamente tudo em prol do sucesso – o que se confirmaria com ainda mais força posteriormente.

O manager declarou, conforme resgate de 2017:

“Quando ‘Jeremy’ explodiu e eles tocaram no MTV Video Music Awards, [o CEO da Sony Music, Tommy] Mottola estava na festa da gravadora dizendo: ‘Vocês têm que lançar ‘Black’.’ E a banda respondeu: ‘Não. Chega. Já nos tornamos grandes o suficiente’.”

Descobridor do quinteto, Michael Goldstone ainda fez questão de mencionar que o tema da canção era pessoal demais para ser transformado em um mero produto comercial.

“‘Black’ abordava um assunto meio delicado. Várias outras pessoas na empresa realmente a queriam como o próximo single.”

O significado da letra

No livro “Pearl Jam Twenty”, em registro da Wikipedia, o vocalista Eddie Vedder explicou o conteúdo lírico. Ele disse:

“É sobre primeiros relacionamentos. A música é sobre deixar ir. É muito raro um relacionamento resistir à atração gravitacional da Terra, para onde ela vai levar as pessoas e como elas vão crescer. Ouvi dizer que você não pode realmente ter um amor verdadeiro a menos que seja um amor não correspondido. É duro, porque então o seu mais verdadeiro é aquele que você não pode ter para sempre.”

Kelly Curtis ainda recordou que precisou recusar muitas oportunidades pelo desconforto do grupo em lidar com determinadas situações. Mas isso não o incomodava, ele garante.

“Recusamos inaugurações, especiais de TV, turnês em estádios, todo tipo de mercadoria que você possa imaginar. Recebi uma ligação da Calvin Klein, querendo que Eddie aparecesse em um anúncio. Aprendi a dizer ‘não’ muito bem. Eu tinha orgulho da banda e de suas posições.”

O guitarrista Mike McCready, no entanto, deixa claro que o vocalista pode não ter se tornado um popstar, mas “sequestrou” a liderança do coletivo. ELe explica:

“Foi nessa época que Eddie assumiu o controle de tudo. Uma ditadura benevolente: essa é a teoria. Jeff (Ament, baixista) e Stone (Gossard, guitarrista) comandavam as coisas de um ângulo, mas com Eddie, era tudo uma questão de recuar.”

A negativa por um videoclipe

Outro motivo que fez o Pearl Jam não aceitar a proposta era a ideia de que “Black” não poderia ter um videoclipe. Os músicos entendiam que isso limitaria a imaginação do ouvinte, o que já havia acontecido com “Jeremy”.

Além disso, o roteiro da produção era mais uma evidência da tomada de liderança de Vedder. Jeff Ament chegou a declarar:

Mark Eitzel, do American Music Club, nos disse: ‘Eu vi o vídeo de ‘Jeremy’ e odiei pra caramba’. Foi tão chocante, esse cara que tínhamos acabado de conhecer. Ele disse: ‘Eu tinha uma visão totalmente diferente da música e o clipe estragou tudo’. E eu concordo com ele.”

À Rolling Stone, em 1993 (resgate de arquivo), Eddie se justificou sobre a negativa para “Black”. O cantor disse:

“Algumas músicas simplesmente não são feitas para serem tocadas entre o Hit No. 2 e o Hit No. 3. Se você começar a fazer essas coisas, vai acabar se arruinando. Não é por isso que escrevemos canções. Não as criamos pelo sucesso. Mas essas músicas frágeis são arrasadas pelo negócio. Eu não quero fazer parte disso. Eu não acho que a banda queira fazer parte disso.”

Além disso, o intérprete reconheceu que a carga emocional envolvida não a qualificava como “apenas outra canção qualquer”.

“Há certas músicas que vêm da emoção. Não tem nada a ver com melodia, tempo ou mesmo palavras; tem a ver com a emoção por trás da música. Você não pode colocar só 50 por cento, tem que cantá-las com um sentimento. Como ‘Alive’ e ‘Jeremy’ até hoje — e ‘Black’. Essas músicas, elas me destroem.”

O sucesso de “Black”

Apesar de não ter saído como single, “Black” teve veiculação espontânea nas rádios dos Estados Unidos, o que a levou ao terceiro lugar na parada Mainstream Rock da Billboard, além de vigésimo no chart Alternative Airplay.

Com a popularização dos formatos digitais e da contabilização de streamings para premiações, veio a faturar uma série de reconhecimentos. Entre eles, está o disco de platina obtido no Brasil, concedido em 2023.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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