Como o Angra fez sua obra-prima conceitual “Temple of Shadows”

Álbum tornou-se o mais premiado e um dos mais vendidos da carreira da banda que, nos bastidores, já começava a ter problemas

Na virada do século, contra todas as expectativas, o Angra não apenas superou a saída simultânea de três integrantes, mas também estabeleceu o lineup responsável pela entrega de alguns dos seus álbuns mais comercialmente bem-sucedidos.

“Não sabíamos se os fãs iriam aprovar a nova formação”, admitiu o guitarrista Rafael Bittencourt em conversa com Sérgio Sacani no canal Ciência Sem Fim no YouTube. “Mas, para nossa surpresa, eles gostaram muito. Houve uma grande aceitação.”

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O título do primeiro trabalho dessa nova fase não poderia ser mais apropriado: Rebirth (2001), que significa “renascimento”. Segundo Rafael, o disco “veio para representar esse renascimento da banda. Ele carregava uma mensagem de esperança… E foi um sucesso, o público adorou.”

O êxito de “Rebirth” deu ao Angra a confiança para experimentar não apenas novos sons, mas a desafiar ainda mais os fãs com um trabalho repleto de temas mais densos. Assim começa a jornada de “Temple of Shadows”.

Da renovação à experimentação

Em 6 de agosto de 2000, citando “sérios atritos com o nosso empresário no Brasil”, o vocalista Andre Matos anunciou sua saída do Angra. Mas ele não deu o fora sozinho: o baixista Luis Mariutti e o baterista Ricardo Confessori também deixaram a banda pelo mesmo motivo.

Avançando para 7 de março de 2001, em um evento fechado para a imprensa musical e alguns fãs em São Paulo, os guitarristas Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt anunciaram a entrada do vocalista Edu Falaschi (ex-Symbols), do baixista Felipe Andreoli (ex-Karma, Di’Anno) e do baterista Aquiles Priester (Hangar, Di’Anno), completando assim o line-up 2.0 do grupo.

O primeiro fruto dessa nova formação, “Rebirth”, chegou às lojas em novembro daquele ano. Produzido pelo americano Dennis Ward, o álbum foi um sucesso de crítica e de vendas, tanto no Brasil — onde ganhou Disco de Ouro — quanto internacionalmente. A Rebirth World Tour, a maior turnê até então realizada pelo Angra, manteve a banda na estrada por quase dois anos e rendeu CD duplo e DVD “Rebirth World Tour – Live in São Paulo” (2002).

Todo esse sucesso deu aos músicos a confiança necessária para experimentar no trabalho seguinte, como explicou Felipe durante rodada de Q&A em seu Instagram:

“A gente sabia que a composição do ‘Rebirth’ tinha sido mais conservadora do que poderia ter sido. E quando começamos a tocar ao vivo, ficou claro que a banda tinha um potencial enorme e que podíamos explorar mais isso no próximo disco. Então, chegamos com sangue nos olhos, querendo fazer um disco animal, sem as amarras que tínhamos no ‘Rebirth’. Fizemos a lição de casa, o jogo estava ganho, e agora era hora de nos divertir. Claro, sem esquecer as raízes do Angra, mas com muito mais liberdade e com o sangue nos olhos. ‘Agora eu vou mostrar do que sou capaz’.”

Em entrevista de 2005 ao programa On the Road, da Itália, Rafael destacou que a longa turnê teve um papel crucial no que ele chamou de “pico máximo de maturidade e coesão” do grupo:

“Estivemos tocando juntos por mais de 100 shows durante a última turnê e isso nos ajudou muito a nos conhecermos melhor, tanto musicalmente quanto pessoalmente, o que é muito importante. Estamos pensando como um só, buscando os mesmos objetivos, e nos entendemos como um grupo, o que é fundamental para o som.”

Foi munido dessa coesão que, em janeiro de 2004, o Angra iniciou as gravações de “Temple of Shadows” no Mosh Studios, em São Paulo, novamente com produção de Dennis Ward. Conforme Edu revelou à revista Disconnected em 2005, “as coisas rolaram de uma maneira mais natural”.

“Sempre tentamos nos redescobrir como músicos. O Kiko tocou um piano supercomplicado [em ‘Winds of Destination’], eu toquei violão [em ‘Wishing Well’], o Rafael cuidou de todos os backing vocals e regeu a orquestra, o Felipe usou baixo fretless e o Aquiles fez algumas percussões. Estamos buscando sempre novos horizontes.”

A música brasileira dá as caras como um diferencial cultural. Na mesma entrevista, porém, Kiko reiterou o interesse do Angra em ir além e mostrar ao fã quem são e do que gostam para provar sua versatilidade.

“Em ‘The Shadow Hunter’, gravamos um lance de flamenco com baião. Todos nós ouvimos diferentes estilos de música e eles vão aparecendo como influências, sendo que algumas vezes estão mais na cara e em outras, mais disfarçadas (…) Isso é uma questão de ensinar tolerância. Gostaríamos que o fã escutasse Milton Nascimento ou a obra de Astor Piazzola sem críticas. Os grandes músicos são grandes músicos independentemente do estilo. Quando a música é boa, isso não importa.”

Música como ferramenta de reflexão

Rafael Bittencourt sempre teve uma inclinação natural para a escrita. Seu avô, o jurista Edgard Bittencourt, foi autor de vários livros sobre direito de família. Em um texto complementar à graphic novel “Templo das Sombras” (Estética Torta, 2022), ele comenta que isso certamente o inspirou.

Durante a composição do que viria a ser o álbum “Temple of Shadows”, Rafael criou uma história completa, com enredo, personagens, background, intrigas, clímax e reviravoltas, com o objetivo de conectar as diversas dinâmicas das músicas que, inicialmente, lhe pareciam desconectadas. A trama se passa durante as Cruzadas, um período marcado pela violência, ignorância, histeria coletiva e as contradições das matanças motivadas pela fé cega. Esse cenário é o pano de fundo para a saga de Shadow Hunter, um cavaleiro templário que, após enfrentar inúmeras situações, decide abandonar o exército da Igreja.

Sobre o processo criativo, Rafael comenta:

“Pesquisei muito sobre a chamada Idade das Trevas, que inspirou o título, sempre sob a ótica livre do artista, abordando as perspectivas antropológicas, filosóficas e humanas que o tema permite, refletindo sobre como, em diferentes escalas, cometemos os mesmos erros até hoje. Nosso país — o mundo todo, na verdade — nunca esteve tão dividido e polarizado, com pessoas enxergando os outros como adversários ou inimigos. Qualquer mínima diferença ideológica gera intolerância e violência verbal. Os celulares só mostram nossos próprios umbigos, o que torna a coisa toda ainda mais distópica. Onde isso vai parar?”

À Disconnected, Kiko Loureiro revelou que foi unânime a decisão de deixar o tema do álbum na mão de Rafael.

“Ele estava tão amarrado ao conceito que era melhor deixá-lo sozinho. Esse lance de religião faz parte da vida dele e nós não estamos tão envolvidos. Mas ele sempre perguntava algo para nós, pois o personagem passava por vários questionamentos e na banda tem ateu, supersticioso, católico não praticante, quem não sabe bem o que é [risos]. O Rafael não queria passar uma visão só dele e o resultado ficou bem legal.”

Ciente do quão delicado é falar de religião no Brasil, que é o maior país católico do mundo, Edu Falaschi reforçou que o Angra não está tentando apontar o que é certo ou errado.

“Citamos a Igreja Católica porque ela faz parte da História da humanidade. Foi ela que, no século XI, dizimou milhares de pessoas que iam contra seus preceitos. Isso é parte da história, mas não queremos dizer que a religião católica é ruim e alguma outra é boa (…) Estamos propondo apenas que as pessoas reflitam sobre o que realmente é a fé, que não se deixem levar cegamente pelo que dizem a mídia ou os padres. Queremos mostrar que existem várias possibilidades e que uma é a ideal para cada pessoa.”

Liricamente, “Temple of Shadows” aborda temas profundos e reflexões filosóficas, como as discussões teológicas em torno do nome Lúcifer, que resultaram na faixa “Morning Star”; a limitação do ser humano em relação ao espaço-tempo e sua dificuldade de acessar dimensões espirituais, que inspiraram “Waiting Silence”; e a dicotomia entre religião e fé, presente em “Wishing Well”.

Em entrevista ao Ibagenscast, Rafael sugere que essas ideias começaram a germinar na faixa “Unholy Wars”, do álbum anterior, “Rebirth”:

“O cristianismo é baseado no perdão, no amor ao próximo, em dar a outra face, mas havia muitos cristãos sendo intolerantes, preconceituosos, julgando os outros, sendo violentos (…) Essa incoerência sempre foi uma motivação para mim. Eu sempre gostei de escrever sobre a incoerência do comportamento humano em relação aos seus valores. Pessoas que pregam certos valores, mas agem de maneira completamente diferente. E aí tem a questão das ‘guerras não santas’. Eu queria ampliar isso (…) Lembra do ataque de 11 de setembro? Os caras [Estados Unidos] foram retaliar no Iraque; teve a Al-Qaeda, as jihades, as guerras santas, e eu pensei: será que vamos repetir os erros das Cruzadas? Mil anos se passam e o ser humano continua encontrando pretextos para ser idiota, né?”

No programa de TV Mulheres (2005), o músico explicou que, desde o começo do Angra, busca trazer questões que façam as pessoas “pensarem um pouco”:

“Sem querer impor uma verdade, uma maneira de raciocinar (…) Mas ajudar um pouco o adolescente em algumas escolhas difíceis na vida. Nosso fã tem entre 13 e 25 anos, uma fase de escolhas, decisões, de formação da personalidade e estrutura da pessoa. Sempre tive essa preocupação de ajudar de alguma forma, porque o rock sempre me ajudou. Desde Raul Seixas até Pink Floyd. As bandas sempre tiveram uma influência grande na nossa vida quando éramos jovens. Então, eu tenho essa preocupação, e essa discussão que trouxe no CD foi por causa disso.”

A perfeição tem seu preço

Após a mudança da base de operações do Angra de São Paulo para Karlsdorf-Neuthard, na Alemanha, Edu Falaschi começou a enfrentar seus primeiros problemas sérios com a voz — a serem diagnosticados corretamente como refluxo somente uma década depois. Em entrevista ao Ibagenscast, o produtor Dennis Ward relembrou essa fase crítica:

“Acho que houve um momento em que Edu apareceu com um nódulo nas cordas vocais. Algo que eu mesmo já tive e, infelizmente, já vi acontecer com outros cantores. E o problema é que, quando você tem isso, a única maneira de se livrar é com o tempo. Ou você remove [o nódulo] cirurgicamente, o que é perigoso, ou simplesmente espera. E às vezes [a espera] pode levar muito tempo. Olhando para trás, provavelmente deveríamos ter esperado, mas, por outro lado, precisávamos lançar o produto.”

Segundo Ward, o enorme sucesso de “Rebirth” gerou uma pressão adicional sobre a banda. O próximo álbum “tinha que ser ainda mais bem-sucedido”. Ele acrescenta:

“A qualquer custo, precisávamos concluí-lo. Então, fizemos e refizemos as coisas, experimentamos, buscamos alternativas e soluções até alcançar o resultado desejado. Isso demorou um pouco (…) Tivemos que tentar fazer partes de forma diferente (…) Houve muitas tomadas, e como eu disse, muitas soluções e buscas, porque não há nada pior do que ouvir um cantor se esforçando demais. E se não conseguíssemos fazer com que não parecesse forçado, a alternativa era procurar outra parte, outra melodia ou algo diferente para soar bem.”

Antes da era dos plug-ins, lidar com uma infinidade de canais de gravação era um desafio enorme. Ward sentiu esse peso nas costas.

“Foi um processo excessivamente longo. Eu estava literalmente farto disso quando terminamos. Estava esgotado. Mas isso porque estive envolvido em três semanas de pré-produção, não sei, dois meses de gravação, talvez mais. E depois mais duas ou três semanas de mixagem. Foi um trabalho constante, sem pausa.”

Trabalho esse que foi elogiado por Kiko na Disconnected. Ele afirma:

“Ele se superou, tirou um som melhor e evoluiu como produtor. A principal banda dele é o Angra e ele quer mostrar que pode ser um dos melhores produtores do mundo, pois tem todas as condições para isso. Ele é músico e tem ouvido espetacular, é interessado e sabe tudo de equipamento, computador, mesa de som (…) E não tem frescura para trabalhar! Nós sempre saíamos para tomar alguma coisa e o cara ficava trabalhando. [Risos.]”

Além das questões de saúde e dos desafios técnicos, as sessões de “Temple of Shadows” também foram marcadas por problemas internos na banda, como Edu relembra no Ibagenscast:

“Problemas de administração, lance de grana, já falei pra caramba sobre isso. A banda meio que se separou na época, e um pouco mais pra frente eu comecei a ficar doente. Então, foi um período metade bom, metade pesadelo.”

Apesar desses obstáculos, nada de negativo foi perceptível para os fãs e a crítica, em grande parte devido ao elenco de participações especiais que emprestaram seus talentos ao álbum. “Temple of Shadows” conta com contribuições notáveis como as de Kai Hansen, vocalista e guitarrista do Gamma Ray e Helloween; Sabine Edelsbacher, vocalista do Edenbridge; Hansi Kürsch, vocalista do Blind Guardian; e a lenda da música brasileira Milton Nascimento.

Transcendendo as fronteiras

Lançado em 6 de setembro de 2004, “Temple of Shadows” rapidamente se tornou o álbum mais premiado da história do Angra. Distribuído no Brasil pela Paradoxx Music e internacionalmente pelo selo Steamhammer da SPV alemã, o disco recebeu aclamação da crítica especializada em todo o mundo. Em entrevista de 2005 ao Pulso MTV, Edu Falaschi comemorou o sucesso:

“Tivemos grandes notas em todas as revistas da Europa e tivemos a felicidade de receber o prêmio de melhor disco do ano pela Burrn!, que é a revista de rock mais importante do mundo, lá do Japão. Aqui no Brasil, ganhamos todos os prêmios possíveis: melhor banda, melhor capa, melhor disco em todos os lugares. Estamos superfelizes, mano.”

A Temple of Shadows World Tour começou com duas apresentações no Raismes Fest, na França, e passou por mais de vinte países entre setembro de 2004 e junho de 2006. Tocando o álbum na íntegra, o Angra esgotou arenas no Brasil e no exterior.

Para Rafael Bittencourt, esse foi um momento especial:

“Foi um momento mágico para a banda. E o conteúdo lírico que criei, juntamente com a história do Shadow Hunter, mobilizou os fãs a debaterem sobre significados e a tentarem decifrar diversos elementos presentes na capa, no encarte e nas entrelinhas. Era a época do Orkut: um postava sobre os versículos bíblicos escritos em hebraico na capa, outro apontava para os trechos do Eclesiastes em ‘The Shadow Hunter’, e mais outro sobre qual seria o significado de ‘Late Redemption’.”

Rafael destaca que “Temple of Shadows” é icônico não só na história do Angra, mas também na evolução do power metal:

“Ele expandiu as fronteiras, as molduras e as limitações de possibilidades. Muitas bandas de power metal seguem uma fórmula, mas no ‘Temple of Shadows’ nós procuramos explorar elementos mais progressivos, entre outros. É um álbum importante no mundo, que inovou em várias coisas.”

No entanto, o caráter progressivo do álbum não foi unanimidade entre os envolvidos. O produtor Dennis Ward, por exemplo, expressou certa preocupação ao Ibagenscast:

“Eu achava que as músicas eram muito, muito fortes, mas também sentia que estavam começando a ficar um pouco progressivas demais. Lembro de dizer, ‘gente, vamos tentar não exagerar muito’. Algumas coisas voltaram a ficar pé-no-chão, enquanto outras permaneceram um pouco mais ousadas, mas tudo bem. Eu respeitei que eles queriam uma produção grandiosa, com muitos teclados, orquestra, coros, overdubs de guitarra, partes e riffs.”

Para Edu, o período é lembrado com uma mistura de sentimentos:

“Foi uma experiência muito louca. Tivemos que administrar tudo isso muito bem. Há memórias bem tristes e difíceis, mas é um disco muito bom. Um disco bom pra c#ralho.”

Após ressaltar a importância de escutar “Temple of Shadows” do início ao fim, Kiko bate o martelo:

“Fizemos setenta minutos de música para o fã não enjoar.”

Angra – “Temple of Shadows”

  • Lançado em 6 de setembro de 2004 pela Paradoxx Music
  • Produzido por Dennis Ward

Faixas:

  1. Deus Le Volt!
  2. Spread Your Fire
  3. Angels and Demons
  4. Waiting Silence
  5. Wishing Well
  6. The Temple of Hate
  7. The Shadow Hunter
  8. No Pain for the Dead
  9. Winds of Destination
  10. Sprouts of Time
  11. Morning Star
  12. Late Redemption
  13. Gate XIII

Músicos:

  • Edu Falaschi (vocais, backing vocals, violão em “Wishing Well”)
  • Kiko Loureiro (guitarra, bandolim, percussão, piano em “Winds of Destination”)
  • Rafael Bittencourt (guitarra, backing vocals, regência em “The Temple of Hate” e “No Pain for the Dead”)
  • Felipe Andreoli (baixo, backing vocals)
  • Aquiles Priester (bateria, percussão)

Músicos adicionais:

  • Douglas Las Casas (percussão)
  • Hansi Kürsch (vocais em “Winds of Destination”)
  • Kai Hansen (vocais em “The Temple of Hate”)
  • Milton Nascimento (vocais em “Late Redemption”)
  • Sabine Edelsbacher (vocais em “Spread Your Fire” e “No Pain for the Dead”)
  • Sílvia Góes (piano em “Sprouts of Time”)
  • Topcat Strings Quartet (cordas)
  • Yaniel Matos (violoncelo)

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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