Pela terceira vez em uma semana, Arnel Pineda se pronunciou a respeito do criticado show do Journey no Rock in Rio, no último domingo (15). Além de admitir que ainda sofre por sua performance abaixo do esperado, o vocalista declarou que deixará a banda caso esta seja a vontade do público.
Por meio do Facebook, inicialmente, Pineda agradeceu a todos que assistiram a shows do grupo desde fevereiro. No mês em questão, foi iniciada a etapa atual da turnê trazida ao Brasil.
Ele diz:
“Mais uma vez, muito obrigado a todos que foram ao show do Journey desde fevereiro deste ano. Aprecio muito todos vocês. E não só isso: sempre que estou no palco com a banda, sinto imensa gratidão e honra.”
Na sequência, Arnel publicou um link de um vídeo que evidencia problemas de sua performance no Rock in Rio. A filmagem da página Behind the Songs também no Facebook cita “severas falhas vocais” — e o artista diz, antes de incluir a URL, que está “muito ciente disso”. Em seguida, faz um desabafo:
“Ninguém mais do que eu neste mundo se sente tão devastado em relação a isso. É realmente incrível como mil coisas certas que você fez serão esquecidas só por causa disto… e em tantos lugares para acontecer, acontece justo no Rock in Rio…”
O cantor filipino destaca ter sofrido e ainda estar sofrendo mental e emocionalmente pelo episódio, embora garanta que irá ficar bem. Todavia, ele lançou um desafio em suas redes:
“Aqui está o acordo aqui agora… eu estou oferecendo a vocês (especialmente aqueles que me odiaram e nunca gostaram de mim desde o começo) uma chance agora para simplesmente mandar uma mensagem de texto dizendo ‘VÁ’ ou ‘FIQUE’. Se a opção ‘VÁ’ chegar a 1 milhão, eu vou sair de vez. Vamos jogar, pessoal? Vamos começar.”
Por fim, o artista deixou uma mensagem aos fãs que o apoiam.
“Deus abençoe todos vocês e obrigado mais uma vez a todos os fãs e amigos que acreditaram em mim desde o primeiro dia.”
Na seção de comentários, as principais manifestações são de apoio ao cantor. Mesmo fãs que reconhecem a performance abaixo do esperado demonstraram compreender que tratou-se de um episódio isolado.
Journey no Rock in Rio
Desde o início do set no palco Mundo do Rock in Rio (clique aqui para ler resenha), já era possível perceber que Arnel Pineda enfrentava complicações com o seu retorno in-ear. Por causa disso, o vocalista teve dificuldades para encontrar o tom e acabou criticado pela performance no festival.
O próprio reconheceu que a apresentação ficou aquém do esperado. Mais de uma vez.
Primeiramente, na última segunda-feira (16), o cantor filipino destacou de forma breve em publicação nas redes sociais que o grupo “não foi perfeito”, especialmente ele mesmo. Ao compartilhar um vídeo com alguns momentos da noite, Pineda escreveu o seguinte na legenda:
“#RockInRio2024 #VocêsTodosSãoTãoBelos #SeuBarulhoÉIncrível #BarulhentoEOrgulhoso #QueSonho #NãoFomosPerfeitos, especialmente eu, mas vocês arrasaram junto de nós, com todas as suas forças, e derramaram todo o seu amor em nós sem hesitação… espero que minha primeira vez com vocês não seja a última… eu e o Journey sentimos muita falta de vocês. #VivaBrasil #VivaRockInRio2024”
Depois, o artista voltou a se pronunciar a respeito. Em segunda postagem feita na terça-feira (17), o vocalista divulgou um registro com bandeiras do país ao som de “Seven Nation Army”, do The White Stripes. Também utilizou o espaço para agradecer aos fãs brasileiros pelo apoio, reconhecimento e compreensão — escrevendo um “obrigado” em português. Ele disse:
“Caros fãs do #Brasil e do #RockinRio, #obrigado pela compreensão e por ainda reconhecerem nosso esforço em entretê-los.”
Sobre Arnel Pineda
Arnel Pineda é vocalista do Journey desde 2007. Seu antecessor, Steve Augeri — escalado para substituir o integrante clássico Steve Perry —, sofreu com problemas de garganta desde 2003. Além de usar bases pré-gravadas, o ex-vocalista do Tyketto e Tall Stories precisava passar diversas partes do vocal principal a Deen Castronovo, especialmente os gritos, para que aguentasse fazer os shows por completo.
Jeff Scott Soto assumiu o posto por quase um ano, como um estepe. Não foi efetivado. O Journey dava a entender que JSS ficaria com a vaga, mas a banda deu uma pausa após anunciar, já em junho de 2007, que ele não seria o vocalista em definitivo.
Em vez de acionarem seus contatos em busca de um cantor para a vaga, o guitarrista Neal Schon e o tecladista Jonathan Cain decidiram procurar por um frontman via YouTube. Uma atitude ousada, ainda mais há uma década. Assim, chegaram ao nome de Arnel Pineda.
Nascido na cidade de Manila, no dia 5 de setembro de 1967, Arnel Pineda foi incentivado a cantar por seus pais – em especial sua mãe, que faleceu quando ele tinha apenas 13 anos. Desde jovem, participou de vários programas de TV e competições musicais nas Filipinas.
Graças a uma competição do tipo, promovida pela Yamaha, a sua banda, Amo, conseguiu repercussão no fim da década de 1980. Arnel continuou a aparecer em programas de TV e chegou a gravar um disco solo, em 1999, pela Warner, que também fez sucesso em âmbito local. Na época, ele chegou a morar em Hong Kong, onde trabalhava como cantor de bandas que faziam shows-baile em bares e casas noturnas.
Um ano antes de ser descoberto pelo Journey, Arnel Pineda havia voltado para as Filipinas para uma superbanda de covers, chamada The Zoo. O projeto tocava quase todos os dias e fazia relativo sucesso na região. Paralelamente, investia-se em músicas autoral, compiladas no disco “Zoology”.
Alguns vídeos das performances do The Zoo, tocando músicas do Journey, Survivor, Aerosmith, Led Zeppelin, Air Supply, Stryper e Kenny Loggins começaram a aparecer no YouTube. As performances do Journey se destacavam: versões para “Open Arms” e “Faithfully” faziam muito sucesso entre quem acompanhava os shows.
No fim de junho de 2007, os músicos do Journey já estavam desistindo de encontrar um novo vocalista. Neal Schon e Jonathan Cain passavam horas na frente do computador e não conseguiam achar nenhum bom cantor. Até que, por acaso, Schon se deparou com vídeos do The Zoo. Para ser mais específico, com uma performance de “Faithfully”.
Impressionado, o guitarrista entrou em contato com um fã e amigo de Arnel Pineda, Noel Gomez, que havia feito o upload de vários desses vídeos. Ao falar diretamente com o cantor, enviou um e-mail o convidando para uma audição nos Estados Unidos.
Pineda não acreditou. Até mesmo ignorou a mensagem. Precisou ser convencido por Noel Gomez a responder.
Minutos depois, recebeu a ligação de Neal Schon. Mesmo que tardiamente (não parece, mas ele logo faria 40 anos), o sonho de se tornar um astro do rock mundialmente conhecido se concretizaria.
Semanas depois, Arnel Pineda viajou para os Estados Unidos e só precisou cantar uma música do Journey para mostrar o porquê de estar lá. Deu certo: conseguiu a vaga.
Mesmo dentro do Journey, porém, Arnel Pineda enfrentou resistência inicial. Seja companheiros de banda ou de empresariamento.
Em entrevista ao canal IgorMiranda.com.br, disponível na íntegra no YouTube, Neal Schon admitiu que a ideia de trazer um vocalista desconhecido das Filipinas para se juntar à formação não foi unânime internamente. Ele disse:
“Arnel é uma joia. Ele é mais incrível agora do que ele era quando o encontrei pela primeira vez em Manila, 15 anos atrás. Ele era sem-teto, estava na miséria. Eu estava procurando um novo cantor pro Journey (após a saída de Steve Augeri) e escolhi o YouTube para procurar por um vocalista no mundo todo. Quando ouvi a voz dele, sabia que era aquilo. Não pensei duas vezes. Aquela era a voz, e eu sabia que ele era capaz. E eu mantive essa postura, através de muita resistência de dentro da banda e dos empresários. Eles todos achavam que eu era louco.”
Felizmente, os parceiros de trabalho foram logo convencidos de que o vocalista era o nome certo para a vaga. Schon destaca:
“A gente o trouxe pros Estados Unidos e ele provou que eu estava certo de novo. Outro dia fizemos um show e ele estava fenomenal o tempo inteiro. Soa como um disco toda noite. Ele estava fenomenal, toda noite.”
Desde então, Arnel segue no Journey. Com a banda, ele gravou três discos de estúdio: “Revelation” (2008), “Eclipse” (2011) e “Freedom” (2022). Também realizou diversas turnês que inclusive o trouxeram ao Brasil em 2011 e 2024.
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