Até hoje, a apresentação do Journey no Rock in Rio 2024 segue gerando polêmica. Ocorrido no último dia 15 de setembro, o show recebeu inúmeras críticas devido aos problemas técnicos e à performance do vocalista Arnel Pineda.
De início, o cantor, que ocupa a função no grupo desde 2007, realizou pequenas manifestações a respeito, agradecendo aos fãs e reconhecendo que o grupo “não foi perfeito”. Porém, no domingo (22), além de admitir que ainda sofre por seu desempenho abaixo do esperado, o artista declarou que deixará a banda caso esta seja a vontade do público.
Com tal desdobramento, inúmeros colegas de profissão — como Michael Sweet, vocalista e guitarrista do Stryper, e o baterista brasileiro Aquiles Priester — demonstram apoio ao vocalista. Até mesmo o guitarrista Neal Schon resolveu se pronunciar e atribuiu as falhas enfrentadas às restrições técnicas aplicadas pelo Avenged Sevenfold, atração principal da noite no evento brasileiro.
Agora, chegou a vez de Deen Castronovo abordar toda a situação. Em longa postagem nas redes sociais realizada na última segunda-feira (23), o baterista do Journey saiu em defesa do vocalista e colega de banda.
Na publicação, o músico destacou como trabalhar com a voz envolve inúmeras variáveis e como é impossível controlá-la por ser um “instrumento biológico”. Por isso, elogiou Pineda, afirmando que o artista filipino realiza seu ofício “sem ego e com paixão” e que dá aos fãs “o melhor que pode”, assim como “enfrenta os fatos” quando erra.
Em seguida, criticou os trolls — termo utilizado para pessoas que fazem comentários ofensivos online com a intenção de chamar atenção — e deixou claro que estão mexendo com a sua “família”, à qual faz questão de proteger. Por fim, mencionou “regras” que todos deveriam seguir ao fornecer sua opinião na internet e agradeceu a “quem entende” a mensagem passada.
Deen Castronovo apoia Arnel Pineda
Diz o texto na íntegra:
“Não uso muito as redes sociais, na verdade, sequer as uso. Minha gerente de mídias sociais, Karen, administra minhas contas e postagens para mim. Então, não fico sabendo de muita coisa, a menos que algo me chame a atenção.
Arnel ENFRENTOU o desafio de cantar o catálogo do Journey, NOITE após NOITE, ANO após ANO cansativo! Ele dá a TODOS VOCÊS e ao Journey o melhor que pode dar. Depois de uns poucos shows complicados em 17 anos, Arnel enfrentou os fatos. A voz é um INSTRUMENTO BIOLÓGICO, sujeito ao clima, cansaço, vírus, bactérias, jet lag etc. Às vezes, ela NÃO coopera, NÃO PODE ou NÃO VAI cooperar quando necessário. Então, qual é o sentido de martelar um ser humano por algo que ele não tem controle?
Para os trolls, vocês são muitos abençoados. Podem cantar na poltrona e destruir os poucos que fazem o que ele faz todas as noites. Eles NÃO têm esse luxo; eles devem FAZER ISSO ABSOLUTAMENTE TODA NOITE ou ENFRENTAR VOCÊ e suas OPINIÕES SUPERINFLADADAS! Se VOCÊ pode FAZER MELHOR, então, FAÇA!!
Eu conheço muito poucos que conseguem fazer o que Arnel faz sem ego e com paixão e graça. CAIAM FORA, TROLLS! Vocês estão MEXENDO COM A MINHA FAMÍLIA AGORA e eu sou UM PROTETOR RAIVOSO DA MINHA FAMÍLIA!!
Esta é a América, onde todos e qualquer um pode expressar sua opinião. Quando fizer isso, considere: É GENTIL? É VERDADEIRO? É NECESSÁRIO? Todos nós já vimos essa frase e ela soa verdadeira aqui como em qualquer lugar que seja postado.
Para as pessoas que ENTENDEM, OBRIGADO, nós os apreciamos!
Para os INEPTOS… PROVEM e VENÇAM ou FIQUEM QUIETOS!.”
A justificativa dada por Neal Schon
Como mencionado, Deen Castronovo não foi o único a sair em defesa de Arnel Pineda. Também no último domingo (22), Neal Schon compartilhou uma filmagem do Rock in Rio que mostra a boa recepção do público a ele e a seus colegas. Na legenda, declarou que o grupo teve sua performance afetada por restrições técnicas aplicadas pelo Avenged Sevenfold, atração principal da noite.
O guitarrista disse:
“Este vídeo é do Rio, embora tenhamos descoberto muito depois que ficamos extremamente limitados pelo Avenged Sevenfold — o que significa que quase nenhum som consegue sair do PA (sistema de caixas de som) para o público. É uma jogada de merda. Dê uma olhada no público. Eles adoraram. O resto é porcaria fabricada.”
Na seção de comentários, um internauta questionou por que o Journey não foi o headliner, visto que a banda vendeu mais de 100 milhões de cópias, enquanto os mais jovens tiveram aproximadamente 8 milhões de unidades comercializadas. De forma breve, Schon respondeu: “política”.
Cargo no Journey colocado à disposição
Ainda no último domingo (22), pela terceira vez em uma semana, Arnel Pineda se pronunciou a respeito do show do Journey no Rock in Rio. Além de admitir que ainda sofre por sua performance abaixo do esperado, o vocalista declarou que deixará a banda caso esta seja a vontade do público.
Por meio do Facebook, inicialmente, Pineda agradeceu a todos que assistiram a shows do grupo desde fevereiro. No mês em questão, foi iniciada a etapa atual da turnê trazida ao Brasil.
Ele diz:
“Mais uma vez, muito obrigado a todos que foram ao show do Journey desde fevereiro deste ano. Aprecio muito todos vocês. E não só isso: sempre que estou no palco com a banda, sinto imensa gratidão e honra.”
Na sequência, Arnel publicou um link de um vídeo que evidencia problemas de sua performance no Rock in Rio. A filmagem da página Behind the Songs também no Facebook cita “severas falhas vocais” — e o artista diz, antes de incluir a URL, que está “muito ciente disso”. Em seguida, faz um desabafo:
“Ninguém mais do que eu neste mundo se sente tão devastado em relação a isso. É realmente incrível como mil coisas certas que você fez serão esquecidas só por causa disto… e em tantos lugares para acontecer, acontece justo no Rock in Rio…”
O cantor filipino destaca ter sofrido e ainda estar sofrendo mental e emocionalmente pelo episódio, embora garanta que irá ficar bem. Todavia, ele lançou um desafio em suas redes:
“Aqui está o acordo aqui agora… eu estou oferecendo a vocês (especialmente aqueles que me odiaram e nunca gostaram de mim desde o começo) uma chance agora para simplesmente mandar uma mensagem de texto dizendo ‘VÁ’ ou ‘FIQUE’. Se a opção ‘VÁ’ chegar a 1 milhão, eu vou sair de vez. Vamos jogar, pessoal? Vamos começar.”
Por fim, o artista deixou uma mensagem aos fãs que o apoiam.
“Deus abençoe todos vocês e obrigado mais uma vez a todos os fãs e amigos que acreditaram em mim desde o primeiro dia.”
Na seção de comentários, as principais manifestações são de apoio ao cantor. Mesmo fãs que reconhecem a performance abaixo do esperado demonstraram compreender que tratou-se de um episódio isolado.
Sobre Arnel Pineda
Arnel Pineda é vocalista do Journey desde 2007. Seu antecessor, Steve Augeri — escalado para substituir o integrante clássico Steve Perry —, sofreu com problemas de garganta desde 2003. Além de usar bases pré-gravadas, o ex-vocalista do Tyketto e Tall Stories precisava passar diversas partes do vocal principal a Deen Castronovo, especialmente os gritos, para que aguentasse fazer os shows por completo.
Jeff Scott Soto assumiu o posto por quase um ano, como um estepe. Não foi efetivado. O Journey dava a entender que JSS ficaria com a vaga, mas a banda deu uma pausa após anunciar, já em junho de 2007, que ele não seria o vocalista em definitivo.
Em vez de acionarem seus contatos em busca de um cantor para a vaga, o guitarrista Neal Schon e o tecladista Jonathan Cain decidiram procurar por um frontman via YouTube. Uma atitude ousada, ainda mais há uma década. Assim, chegaram ao nome de Arnel Pineda.
Nascido na cidade de Manila, no dia 5 de setembro de 1967, Arnel Pineda foi incentivado a cantar por seus pais – em especial sua mãe, que faleceu quando ele tinha apenas 13 anos. Desde jovem, participou de vários programas de TV e competições musicais nas Filipinas.
Graças a uma competição do tipo, promovida pela Yamaha, a sua banda, Amo, conseguiu repercussão no fim da década de 1980. Arnel continuou a aparecer em programas de TV e chegou a gravar um disco solo, em 1999, pela Warner, que também fez sucesso em âmbito local. Na época, ele chegou a morar em Hong Kong, onde trabalhava como cantor de bandas que faziam shows-baile em bares e casas noturnas.
Um ano antes de ser descoberto pelo Journey, Arnel Pineda havia voltado para as Filipinas para uma superbanda de covers, chamada The Zoo. O projeto tocava quase todos os dias e fazia relativo sucesso na região. Paralelamente, investia-se em músicas autoral, compiladas no disco “Zoology”.
Alguns vídeos das performances do The Zoo, tocando músicas do Journey, Survivor, Aerosmith, Led Zeppelin, Air Supply, Stryper e Kenny Loggins começaram a aparecer no YouTube. As performances do Journey se destacavam: versões para “Open Arms” e “Faithfully” faziam muito sucesso entre quem acompanhava os shows.
No fim de junho de 2007, os músicos do Journey já estavam desistindo de encontrar um novo vocalista. Neal Schon e Jonathan Cain passavam horas na frente do computador e não conseguiam achar nenhum bom cantor. Até que, por acaso, Schon se deparou com vídeos do The Zoo. Para ser mais específico, com uma performance de “Faithfully”.
Impressionado, o guitarrista entrou em contato com um fã e amigo de Arnel Pineda, Noel Gomez, que havia feito o upload de vários desses vídeos. Ao falar diretamente com o cantor, enviou um e-mail o convidando para uma audição nos Estados Unidos.
Pineda não acreditou. Até mesmo ignorou a mensagem. Precisou ser convencido por Noel Gomez a responder.
Minutos depois, recebeu a ligação de Neal Schon. Mesmo que tardiamente (não parece, mas ele logo faria 40 anos), o sonho de se tornar um astro do rock mundialmente conhecido se concretizaria.
Semanas depois, Arnel Pineda viajou para os Estados Unidos e só precisou cantar uma música do Journey para mostrar o porquê de estar lá. Deu certo: conseguiu a vaga.
Mesmo dentro do Journey, porém, Arnel Pineda enfrentou resistência inicial. Seja companheiros de banda ou de empresariamento.
Em entrevista ao canal IgorMiranda.com.br, disponível na íntegra no YouTube, Neal Schon admitiu que a ideia de trazer um vocalista desconhecido das Filipinas para se juntar à formação não foi unânime internamente. Ele disse:
“Arnel é uma joia. Ele é mais incrível agora do que ele era quando o encontrei pela primeira vez em Manila, 15 anos atrás. Ele era sem-teto, estava na miséria. Eu estava procurando um novo cantor pro Journey (após a saída de Steve Augeri) e escolhi o YouTube para procurar por um vocalista no mundo todo. Quando ouvi a voz dele, sabia que era aquilo. Não pensei duas vezes. Aquela era a voz, e eu sabia que ele era capaz. E eu mantive essa postura, através de muita resistência de dentro da banda e dos empresários. Eles todos achavam que eu era louco.”
Felizmente, os parceiros de trabalho foram logo convencidos de que o vocalista era o nome certo para a vaga. Schon destaca:
“A gente o trouxe pros Estados Unidos e ele provou que eu estava certo de novo. Outro dia fizemos um show e ele estava fenomenal o tempo inteiro. Soa como um disco toda noite. Ele estava fenomenal, toda noite.”
Desde então, Arnel segue no Journey. Com a banda, ele gravou três discos de estúdio: “Revelation” (2008), “Eclipse” (2011) e “Freedom” (2022). Também realizou diversas turnês que inclusive o trouxeram ao Brasil em 2011 e 2024.
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