Desde seu surgimento, o Raimundos ficou marcado pelas músicas explícitas. Logo no primeiro álbum, homônimo, lançado em 1994, a banda não economizou nos palavrões e referências sexuais. Tal atitude fez com que boa parte das canções não tocasse nas rádios tradicionais.
Olhando em retrospecto, Digão concorda com a “censura”. Durante entrevista ao podcast Starling Cast, o vocalista e guitarrista do grupo alegou que as faixas eram voltadas para uma “molecada mais avançada” e que, por isso, nunca enxergou a situação como injustiça.
Conforme transcrição do site IgorMiranda.com.br, ele disse:
“Não é questão de ser conservador. Tenho esposa, tenho filhos. Acho que a brincadeira do Raimundos tem hora e lugar. Não é para minha filha de três anos. É para uma molecada que já está avançada, lá para os seus 15 ou 16 anos. Nunca me senti injustiçado pelas músicas do Raimundos terem sido censuradas. Sempre achei certo.”
Em suas palavras, “Selim”, presente no disco de estreia e responsável pelo estouro da banda, representou uma exceção ao obter sucesso nas transmissões nacionais. Apenas “Mulher de Fases”, muito mais “polida” e lançada em 1999 no álbum “Só no Forévis”, conseguiu o feito na discografia novamente.
O músico pontuoua
“A gente nunca tocou no rádio com as p*t*rias. Em ‘Selim’, a gente usou nomes científicos, a gente nem fala p*u, b*cet*. É uma música que foi atípica. Mas depois, nenhuma tocou no rádio a nível nacional. Só ‘Mulher de Fases’. ‘I Saw You Saying’ tocava na MTV, que era a nossa rádio, não era a Jovem Pan ou a Transamérica.”
Anteriormente, em fevereiro último, Digão havia abordado o tema no programa “Na Grelha com Netão”. Na ocasião, apresentou o mesmo argumento, declarando:
“As músicas que tinham palavrão no Raimundos não tocavam nas rádios. No máximo, tocavam na rádio rock e, digamos, em rádios mais abertas. Mas eu nunca me senti injustiçado ou censurado, porque eu acho que, na vida, tudo tem sua hora. É uma banda para uma galera mais iniciada, não é para criança. Então nunca me senti injustiçado pela censura que a gente sofreu na época. O Raimundos era para os moleques mais velhos, para entenderem a brincadeira.”
A opinião de Canisso
Com exceção do ex-vocalista Rodolfo Abrantes, que declara se arrepender das composições, os músicos da banda sempre defenderam as canções criadas no passado. Eles já disseram, em diferentes ocasiões, que as letras serviam como um “teste” para saber até onde ia a democracia do Brasil – até então, relativamente nova, uma década após o fim da ditadura militar.
No entanto, por meio do X/Twitter em 2020, o saudoso Canisso reconheceu que uma das músicas do Raimundos tem um problema: “Me Lambe”. Composta por Rodolfo com o guitarrista (hoje também vocalista) Digão e o baterista Fred Castro, a canção apresenta seu interlocutor apaixonado por uma moça mais jovem.
Trechos como “Eu acho que com a sua idade já dá pra brincar de fazer neném” e “Acho que ela viajou que eu era um picolé – me lambe” não geraram tanta controvérsia na época do lançamento. Porém, com o passar dos anos, os debates a respeito dessa canção em especial se intensificaram.
Ao responder um fã que disse que o Raimundos não deveria mudar seu repertório, nem deixar que “a chatice do mundo” os atingisse, o baixista disse:
“Algumas são besteiras inofensivas, todo mundo sabe e ‘perdoa’. O caso de ‘Me Lambe’ é diferente. Apesar de ser zoeira, ela toca num ponto bastante complicado. Pessoas se ofendem, não traz nada de bom… o mundo mudou, eu mudei também. F*da-se essa música.”
Em outra mensagem, sem responder a nenhum seguidor, Canisso declarou que o Raimundos nunca quis ofender nenhuma pessoa:
“Raimundos é a minha vida, a trilha sonora do meu romance com a Dree, criei meus filhos e os sustento com ela, não sinto nada além de amor e orgulho por essa banda, sempre!!! Falamos m*rda em algumas letras pra chocar e divertir, NUNCA pra ofender ninguém.”
Questionado se faria algo diferente com o Raimundos, o falecido músico mencionou a “censura”. Ele respondeu:
“Talvez maneirar na p*t*ria. Fui meio contra desde o início. Sabia que nosso caminho seria mais difícil por causa da censura velada que sempre sofremos.”
Sobre o Raimundos
Com influências do punk rock e da música nordestina, o Raimundos se consolidou com Rodolfo Abrantes nos vocais, Digão na guitarra e Fred Castro na bateria, além de Canisso, falecido em março de 2023, no baixo.
Ao longo da década de 1990, o Raimundos se tornou uma das maiores bandas de rock do Brasil. Discos como a estreia homônima de 1994, “Lavô Tá Novo” (1995) e “Só no Forévis” (1999) venderam milhões de cópias, rendendo hits como “Mulher de Fases”, “A Mais Pedida”, “Me Lambe”, “Eu Quero Ver o Oco”, “I Saw You Saying (That You Say That You Saw)”, “Selim” e “Puteiro em João Pessoa”.
Nos últimos anos, o Raimundos tem sido alvo de críticas após posicionamentos políticos manifestados por Digão. Canisso chegou a dizer em entrevistas que a banda estava suspensa por toda a confusão, que também se desencadeou em provocações do frontman a outros músicos brasileiros como Tico Santa Cruz (Detonautas Roque Clube) e João Gordo (Ratos de Porão), mas também saiu em defesa do colega ao dizer que, apesar do erro, uma retratação foi publicada.
A formação atual do Raimundos conta com Digão no vocal e guitarra, Marquim na guitarra, Caio Cunha na bateria e Jean Moura no baixo.
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