O Kiss pode ser considerado o mais próximo de uma unanimidade entre as bandas dos antagônicos glam/hair metal e o grunge. Do Poison ao Nirvana, do Mötley Crüe ao Alice in Chains, vários músicos idolatravam o quarteto de super-heróis que tocava rock. O fato ajudou a estabelecer uma credibilidade da qual o grupo não desfrutava nos anos 1970, quando eram considerado uma afronta por roqueiros mais radicais. O Pearl Jam estava entre os admiradores.
O grupo de Seattle não apenas se deixou influenciar como pegou emprestado um popular solo de Ace Frehley. O guitarrista Mike McCready reconheceu o “roubo”.
No entanto, o próprio lick original já era retirado de uma canção do The Doors — o que lhe concederia 100 anos de perdão, de acordo com o ditado.
Disse o músico de Seattle à Rolling Stone:
“Eu realmente gravitei em direção ao vibrato de Ace. Meu solo para ‘Alive’ é baseado no de ‘She’, que por sua vez foi baseado em ‘Five to One’ do The Doors.”
A seguir, o instrumentista contou que a inspiração veio na fase final das gravações do primeiro álbum do PJ, “Ten” (1991). Apesar de novato, o grupo ganhou a confiança da gravadora para buscar o som que desejava em território britânico.
“Eu lembro que estávamos em Surrey, Inglaterra. Meu pensamento foi: ‘Vou abordar isso como Ace fez em ‘She’’. Lembro que o padrão de acordes que Stone [Gossard, outro guitarrista] escreveu adotava esse ritmo descendente. Então eu meio que fui em frente e improvisei a partir daí.”
The Doors e “Five to One”
“Five to One” faz parte de “Waiting for the Sun” (1968), terceiro disco da carreira do The Doors. A composição foi creditada a toda a banda, com Jim Morrison assinando a letra. Seu arranjo é baseado em uma levada rhythm & blues. O guitarrista Robby Krieger já a descreveu como “uma das precursoras do heavy metal”.
Sua performance ao vivo mais memorável aconteceu em Miami, no ano de 1969. Embriagado, Jim chamou o público de “idiotas” e “escravos” ao final da execução. Também incitou os fãs a invadirem o palco.
Acusado de “tentar incitar uma revolta” entre os presentes, o cantor acabou preso e posteriormente condenado exposição indecente, por supostamente ter mostrado suas partes íntimas – o que nunca foi provado e os remanescentes do grupo negam até hoje.
Kiss e “She”
Presente no álbum “Dressed to Kill” (1975), terceiro do Kiss, “She” foi composta por Gene Simmons e Stephen Coronel nos tempos do Wicked Lester, banda da qual Paul Stanley também fazia parte antes do sucesso. Ela chegou a ser registrada para o disco do grupo, que acabou não saindo de forma oficial.
A canção também apareceu no disco ao vivo “Alive!” (1975), onde abre espaço para a performance solo de Ace Frehley. Posteriormente, foi regravada pelo Anthrax para o tributo “Kiss My Ass” (1994). O próprio Ace fez uma nova versão para seu “Origins Vol. 2” (2020).
Pearl Jam e “Alive”
“Alive” foi o primeiro single da carreira do Pearl Jam, disponibilizado cerca de dois meses antes do lançamento de “Ten”. A música se originou de uma demo instrumental chamada “Dollar Short”, usada para testar vocalistas para a banda. Eddie Vedder escreveu a letra parcialmente baseada no momento em que sua mãe lhe contou que seu pai biológico estava morto e quem ele imaginava ser seu pai era, na verdade, o padrasto.
A composição é a primeira peça de uma trilogia descrita como uma miniópera intitulada “Mamasan”. “Once” e “Footsteps” completam a trama. “Alive” conta a história de um jovem que descobre que o homem que ele pensava ser seu pai é na verdade seu padrasto, enquanto a dor de sua mãe leva a um relacionamento incestuoso com o filho, que se parece muito com o pai biológico.
O prolongamento da história leva a “Once”, em que o homem desce à loucura e sai em uma matança. O encerramento em “Footsteps” se passa no momento em que o homem finalmente olha para trás e revê suas memórias. Porém, é tarde demais para mudar os rumos, já que ele está em uma cela de prisão aguardando sua execução.
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