Morreu aos 79 anos nesta quarta-feira (23) o poeta, filósofo e compositor Antônio Cícero. Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), ele passou pelo processo de suicídio assistido na Suíça, após passar os últimos tempos sofrendo com as debilidades do avanço do Alzheimer.
Sua atuação foi de grande importância na MPB e no rock nacional, tendo como maior destaque a parceria com a irmã Marina Lima, que musicava seus poemas. Das colaborações saíram alguns dos maiores clássicos da cantora, como “Fullgás”, “Para Começar” e “À Francesa” – esta última com colaboração de Cláudio Zoli.
Também assinou canções para músicos como Lulu Santos – incluindo o grande hit “O Último Romântico” –, Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, Moraes Moreira, Waly Salomão, João Bosco, Orlando Morais e Adriana Calcanhotto, entre vários outros.
Na literatura e ciências sociais, promoveu trabalhos com João Cabral de Melo Neto, Haroldo de Campos, John Ashbery, Derek Walcott, Richard Rorty, Tzvetan Todorov, Hans Magnus Enzensberger, Peter Sloterdijk, Ernest Gellner, Bento Prado Júnior e Darcy Ribeiro.
A carta de despedida de Antônio Cícero
Em carta compartilhada na coluna de Lauro Jardim, no jornal O Globo, Cícero escreveu:
“Queridos amigos, encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer. Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.
Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi. Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia. Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.
Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação. A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa – mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los.
Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo. Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.
Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!”
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