Em outubro de 1990, o Engenheiros do Hawaii lançou o seu quarto álbum de estúdio. Intitulado “O Papa é Pop”, o trabalho vendeu mais de 400 mil cópias e se consolidou como um dos maiores sucessos da banda. Apesar da recepção positiva, há uma canção em específico do projeto que o público parece não ter compreendido da maneira correta.
Durante participação no podcast Corredor 5 no ano passado, Humberto Gessinger abordou o tema. Segundo o eterno líder do grupo, a letra da faixa-título, que virou um maiores hits da carreira, foi interpretada erroneamente como uma crítica à Igreja e à religião, quando, na verdade, a intenção era outra.
Conforme transcrição da Be Geeker, ele explicou:
“No Brasil, a coisa da palavra é muito forte […]. Às vezes as pessoas se esquecem que a palavra na canção está envolvida em um contexto emocional que não é bem aquilo [que acham]. Às vezes a maneira de cantar sublinha uma ironia, às vezes não. E quando você cai no lance de sucesso de massa dá uma certa dor no coração, porque quando tu vê, tu está domingo de tarde num programa que o Brasil inteiro vê, cantando uma música que é ‘O Papa é Pop’, todo mundo fazendo papapa popopó, e que eu acho uma música muito violenta e muito triste em temática […]. É uma coisa do contexto mesmo, e quando tu vê tem gente que acha que a música está falando sobre Igreja, sobre religião, e não é a questão.”
A história de “O Papa é Pop”
À revista Bizz em 1990, o cantor detalhou o significado da música. Nas palavras do próprio, a ideia era brincar com a popularidade excessiva do Papa João Paulo II — que chegou a sofrer um atentado a tiros em 1981 —, além de fazer um paralelo com o fato de que a banda também conseguiu alavancar sua carreira e chegar ao mainstream. A inspiração surgiu quando viu certas imagens “descontraídas” da figura religiosa, o que levou à reflexão presente na composição, como disse:
“Era superdifícil falar do pop porque eu não fazia parte, a banda era pequena ainda. Mas desde o ano passado, o pop se tomou mais real para nós. Foi então que vi numa revista, uma foto do Leonel Brizola na sala da casa dele. Atrás dele, havia um pôster do Papa tomando chimarrão. Depois lembrei-me de outra foto do Papa com a bandeira do Flamengo dentro de uma limusine. [Pensei], ‘pô, o Papa é pop realmente’ […]. A tecnologia levou a isso, onde tudo é pop. Elegemos o presidente que era mais pop, o único que anda de jet ski. O ex-técnico da seleção brasileira é pop, ele vende Fiat.”
Na ocasião, ele reconheceu que uma parcela das pessoas poderia ver a letra como “um papo pejorativo”. No entanto, não acreditava que a criação ocasionaria grandes problemas, já que a descreveu como “muito sutil”. Ele pontuou:
“O Papa é pop sem deixar de ser Papa. Tem gente que vai achar que é um papo pejorativo. Mas eu acho o Papa do car#lho. É lindo que ele seja pop. Acho que não terá problemas. Muitas bandas fizeram músicas falando mal da Igreja diretamente. A nossa é super sutil, é a favor do Papa. A Igreja que se cuide porque ela está deixando de ser pop. Se houver algum problema, eu retiro o Papa, porque sou supercatólico. Mas proponho o pop como uma maneira de ser eterno. Não é brincadeira, é supersério. Fiz isso com a minha vida e aconselho a Igreja a fazer o mesmo. Se o Papa tem coragem de tomar chimarrão em Porto Alegre, ele tem de ter coragem de estar na capa do disco dos Engenheiros.”
Humberto Gessinger atualmente
Humberto Gessinger anunciou que fará uma turnê celebrando os 20 anos do “Acústico MTV” do Engenheiros do Hawaii, originalmente lançado em 2004. O repertório também evidenciará “Acústico: Novos Horizontes”, continuação oficial do trabalho, disponibilizado em 2007. Com início em janeiro do ano que vem, o itinerário começará por Porto Alegre e, então, passará por Belo Horizonte, Rio de Janeiro e, por fim, São Paulo, em fevereiro.
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