Jeff Beck foi, inegavelmente, uma lenda da guitarra. Com uma carreira marcada por participações em bandas como Yardbirds e parcerias das mais diversas, o saudoso guitarrista exerceu grande influência no cenário musical. Mas, na opinião de um dos artistas com quem colaborou, o músico teria sido mundialmente ainda mais conhecido se não fosse um certo detalhe.
Seal teve a oportunidade de trabalhar com Beck em mais de uma ocasião. Ambos assinaram juntos releituras de “Manic Depression”, da Jimi Hendrix Experience, e “Like a Rolling Stone”, de Bob Dylan, lançadas respectivamente em 1993 e 2012.
Conversando com o canal da Vertex Effects, o cantor então destacou como a admiração pelo colega perdura até hoje. Conforme transcrição da Ultimate Guitar, ele disse:
“Jeff Beck é meu guitarrista favorito de todos os tempos. Na verdade, ele e Prince. Sem dúvida, Jeff Beck é o guitarrista mais lírico que consigo imaginar. É simplesmente lindo, o que sai dele. Como pessoa também, mas o que saía daquelas mãos é tão puro.”
Logo depois, ele explicou o motivo pelo qual o guitarrista não ganhou ainda mais destaque na indústria. Ao seu ver, a única coisa que faltava no instrumentista era a habilidade de cantar. Por isso, pontuou:
“Eu sempre disse que se Beck soubesse cantar, ele teria sido o melhor, teria virado um dos maiores performers e artistas de estúdio. Ele já era, mas teria sido mundialmente famoso se pudesse cantar. Porque ele compunha tão lindamente e tocava de maneira muito lírica. E essa era apenas sua maneira de cantar.”
Durante minidocumentário sobre a gravação do mencionado cover de “Like a Rolling Stone”, Seal já havia manifestado sua opinião a respeito do talento do músico. Na produção, disse:
“Estar no mesmo cômodo de Jeff Beck é uma experiência religiosa. Enquanto que, na mente dele, ele está apenas agindo naturalmente, para a gente é simplesmente genial. Ele é único e um dos últimos ainda a ser assim. Sou sortudo por ele gostar do que faço.”
A relação com a própria voz
Jeff Beck tinha problema com a própria voz. Apesar de até ter soltado os vocais em músicas como “Hi Ho Silver Lining”, o saudoso artista não gostava de como soava. Curiosamente, sua própria percepção mudou ao receber um importante conselho do colega Eric Clapton. À Total Guitar em 2016, ele contou:
“Eric [Clapton] me disse palavras de grande sabedoria: ‘acostume-se com o fato de que você odeia sua voz, porque eu também odiava a minha.’ E eu respondi: ‘mas você soa bem, eu soo insuportavelmente ruim. Eu detesto cantar. Eu nunca iria gostar disso’. E ele afirmou: ‘estou te dizendo, se você não fizer isso, vai ser difícil’. E ele estava certo. Se eu cantasse em uma música e todo mundo gostasse, isso automaticamente me daria confiança e eu poderia até gostar de como eu soo. Porém lançar uma coisa dessas seria mais do que posso suportar.“
Sobre Jeff Beck
Nascido em 24 de junho de 1944, em Wallington, Surrey, na Inglaterra, Geoffrey Arnold Beck envolveu-se com a música inicialmente cantando em um coral de igreja. Ao conhecer o trabalho de outro revolucionário da guitarra, Les Paul, ficou impressionado e se apaixonou pelo instrumento. Porém, só começou a tocar mesmo na adolescência.
No início da vida adulta, transitou por uma série de bandas em Londres. Em 1965 juntou-se ao Yardbirds na vaga deixada por Eric Clapton. Ficou apenas um ano, período em que a banda lançou seus maiores hits. A passagem acabou mal, já que ele foi demitido por constantemente não aparecer para os shows.
Em 1967, foi a vez de arriscar-se como dono de banda: o Jeff Beck Group, com Rod Stewart nos vocais, Ronnie Wood no baixo e Micky Waller na bateria. Os primeiros álbuns do projeto, “Truth” (1968) e “Beck-Ola” (1969), são citados como fundamentais para o desenvolvimento do heavy metal. Foi considerado para substituir Syd Barrett no Pink Floyd, mas ninguém na banda teve coragem de convidá-lo.
Com o fim da formação inicial de seu próprio grupo, montou o Beck, Bogert & Appice e seguiu trabalhando em carreira solo, além de uma nova configuração do Jeff Beck Group. Explorou não apenas as já conhecidas influências do blues e rock, como também da soul music, incluindo colaborações com Stevie Wonder.
Na década de 1980, Beck restringiu seu trabalho a apenas algumas aparições em shows beneficentes. Retornou de vez com o álbum “Flash” e também se reuniu com Rod Stewart. A partir dos anos 1990, reduziu o ritmo de sua carreira, com idas e vindas e longos hiatos entre seus álbuns. Entre suas colaborações nas décadas de 1980 e 1990, estão registros com Mick Jagger, Jon Bon Jovi, Buddy Guy, Tina Turner, Seal, Duff McKagan, Brian May e ZZ Top.
Seu último trabalho completo foi “18”, uma colaboração com o ator e também músico Johnny Depp. Saiu em julho de 2022 e reuniu majoritariamente covers de artistas como Beach Boys, Marvin Gaye e The Velvet Underground. Participou também de “Patient Number 9”, álbum de Ozzy Osbourne, gravando guitarra em duas músicas: a faixa-título e “A Thousand Shades”. Em janeiro de 2023, ele faleceu aos 78 anos de idade após contrair meningite bacteriana.
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