Apesar de já ter reinventado a roda duas ou três vezes no âmbito da música extrema, o Napalm Death não se furta a continuar alimentando a própria inquietação. Vide os discos mais recentes e, por consequência, o show dos caras.
Marcada pelo desfile comedido de clássicos, a apresentação preconiza não se prender ao passado e transita por diferentes fases da banda, aclamada como pioneira do grindcore e da fusão deste com o death metal.
O resultado é um setlist sinuoso, que não é e nem tenta ser perfeito o tempo todo. Um show com muitos altos, mas também alguns baixos (nada que comprometa, diga-se), como se viu na Toinha, em Brasília, na noite de quarta-feira (16).
Outro traço do show que abriu a 12ª turnê do Napalm no Brasil foram os discursos contundentes de Mark “Barney” Greenway, em especial contra três aspectos que o vocalista fez questão de elencar: sexismo, homofobia e transfobia.
Falas que encontraram eco na Death Slam, banda de abertura acertadamente escalada para abrir essa que foi a segunda passagem dos britânicos pela cidade – a primeira havia sido em 2010, juntamente com o Suffocation, no festival Ferrock.
Contemporâneos do grind
Formada em 1990, a Death Slam não tem o menor pudor em dizer que nasceu por influência direta do Napalm Death. E músicas como “Revolution”, “Every War Is Stupid”, “Underground Ways” e a que dá nome à banda escancaram isso.
O quarteto local começou pontualmente às 19h45, com sangue nos olhos e já com um bom público na Toinha. Veterano do grind, Fellipe CDC (vocal) é o mestre de cerimônia e toma conta do palco com uma naturalidade impressionante.
Adélcio (guitarra), Itazil (baixo) e Ademir (bateria) completam a formação atual, que entregou um show muito eficiente e totalmente à altura da atração principal.
Repertório – Death Slam:
- Death Slam
- Revolution
- Evil’s Celebration
- Escravas do Medo
- Rota de Colisão
- A Miséria Está em Todos os Lados
- Fuck Religion
- Experiments
- Every War Is Stupid
- TV Is Your Life
- Grandes Ruas
- Our Streets
- Mr. Racist
- Underground Ways
- Technology
- New Order
- Welcome to Hell
- Cancer
- Carne Viva
- Coca
- Zumbi Humano
- F#da-se a Música Gospel
Protesto, logo existo
Seja qual for a era na cronologia histórica do Napalm Death, algo em comum estará sempre lá: o protesto. Do grindcore ancestral do “Scum” (1986) às esquisitices “pós-alguma coisa” de seu mais novo trabalho, “Throes of Joy in the Jaws of Defeatism” (2020), essa é a assinatura da banda. A ânsia de protestar.
“From Enslavement to Obliteration”, faixa-título da obra-prima lançada por eles em 1988, denuncia, por exemplo, a exploração do homem pelo homem e foi uma ótima escolha para abrir o set, seguida por “Taste the Poison” e “Next on the List”, ambas do álbum “Enemy of the Music Business” (2000).
“Contagion” trouxe dissonâncias de guitarra e vocais nada ortodoxos, mostrando algumas das experimentações recentes da banda. Além dela, tocaram mais quatro do já citado último disco: “That Curse of Being in Thrall”, “Backlash Just Because”, “F#ck the Factoid” e “Amoral”, essa com uma levada inicial de bateria quase indie e com o baixista Shane Embury cantando os versos.
Além de Barney e Shane, o Napalm conta com Danny Herrera, desde 1991 na bateria, e John Cooke, que passou a assumir a guitarra ao vivo em 2014. Pode-se dizer, no entanto, que o guitarrista de longos dreads é o elo fraco da formação. Seu timbre não é dos mais bonitos e falta maior definição nos riffs. Para uma banda que já teve Bill Steer e Jesse Pintado em suas fileiras, ele fica devendo.
Felizmente, o baixo de Shane preenche muitas das lacunas, como fica evidente na ritualística “Resentment Always Simmers”. O jeito desengonçado (e único!) de Barney agitar também reforça o carisma e apreende o olhar de todos, seja na “voivodiana” “The Wolf I Feed” ou na rápida e caótica “It’s a M.A.N.S. World!”, mais uma representante do “F.E.T.O.”.
A essa altura, a apresentação já se encaminhava para a metade e, apesar dos esforços da banda, havia a sensação de que a resposta do público estava ligeiramente fria. Esse panorama se alterou à medida que surgiram hinos como “Suffer the Children”, do “Harmony Corruption” (1990), disco em que abraçam de vez o death metal, e a avassaladora tetralogia que contempla o debut: “Scum”, “M.A.D.”, “Success?” e “Suffer”, com seus incríveis… 1,316 segundo de duração.
“Nazi Punks F#ck Off”, cover de Dead Kennedys, mantém a euforia, mas por pouco tempo. Isso porque fica perceptível que a noite já se aproxima do final. Com um misto de felicidade e pesar, “Instinct of Survival” e “Contemptuous” encerram o curtíssimo show de apenas 1 hora e 5 minutos.
Cabia mais? Certamente. Faltaram clássicos como “Unchallenged Hate”, “The World Keeps Turning” e outros? Sem dúvida. Mas há de se valorizar também as novas formas de protesto, ou seja, canções recentes. E reconhecer: o Napalm mostra que segue relevante mesmo sem recorrer às muletas da nostalgia.
O Napalm Death ainda se apresenta nas seguintes datas e locais:
– 18/10 – Belém (Botequim)
– 19/10 – Fortaleza (Baladinha Club)
– 20/10 – Recife (Estelita)
– 22/10 – Belo Horizonte (Mister Rock)
– 23/10 – Rio de Janeiro (Circo Voador)
– 24/10 – Porto Alegre (Opinião)
– 25/10 – Curitiba (Cwb Hall)
– 26/10 – São Paulo (Vip Station)
Napalm Death – ao vivo em Brasília
- Local: Toinha
- Data: 16 de outubro de 2024
- Turnê: Latin America Tour 2024
- Produção: Xaninho
Repertório:
- From Enslavement to Obliteration
- Taste the Poison
- Next on the List
- Continuing War on Stupidity
- Contagion
- The Wolf I Feed
- Resentment Always Simmers
- That Curse of Being in Thrall
- Amoral
- It’s a M.A.N.S. World!
- Backlash Just Because
- F#ck the Factoid
- Suffer the Children
- When All Is Said and Done
- Scum
- M.A.D.
- Success?
- You Suffer
- Metaphorically Screw You
- Dead
- Nazi Punks F#ck Off (cover de Dead Kennedys)
- Instinct of Survival
- Contemptuous
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Sem dúvida o que vimos na quarta-feira, foi uma banda atual, apesar dos 43 anos de estrada, segue com seu discurso intacto, experimentando coisas novas, mas sem perder sua essência, show curto, mas entregou o que seus fãs querem, muita fúria!!!