Duas curiosidades antecipavam o show do Ratos de Porão no Knotfest Brasil 2024, responsável por encerrar as atividades do Maggot Stage — palco alternativo destinado às bandas nacionais — no sábado (19), data inaugural do evento de dois dias.
A primeira é como seria a apresentação do quarteto em um evento de música pesada desse porte. Mesmo sendo um dos principais nomes mundiais do punk/crossover, o grupo paulista sempre foi preterido nos diversos festivais que passaram pelo país nos últimos 40 anos.
A segunda é se teríamos problemas técnicos. A Eskröta abriu o festival com som perfeito. Depois disso, praticamente todas as bandas seguintes — Kryour, Eminence e Project46 — sofreram com um misto de som baixo, embolado, guitarra que não funciona e por aí vai. Somente no show do Krisiun a coisa se estabilizou e uma qualidade satisfatória foi atingida.
Quando começou a tocar “Alerta Antifascista” no palco paralelo montado no Allianz Parque, em São Paulo, o Ratos pegou todo mundo de surpresa. Não pela música ou pela performance, mas simplesmente porque as luzes do palco estavam apagadas. E assim permaneceram.
Do apelo sério à galhofa
O baixista Juninho Sangiorgio pediu explicitamente para que pelo menos uma luz fosse direcionada ao palco. Alguns técnicos ocuparam as laterais e tentaram literalmente iluminar a banda com lanternas profissionais. Mesmo o público de todo o estádio tentou ajudar com os próprios celulares.
Enquanto a solidariedade acontecia, o próprio Juninho olhou para o lado e percebeu a contradição. O palco vizinho, Knotstage, que estava sendo preparado para o Slipknot, estava perfeitamente iluminado.
A visão era tão boa por lá que, enquanto o Ratos se apresentava, parte do público conseguiu ver a chegada do kit de bateria de Eloy Casagrande. Tais fãs reagiram em comemoração, num ato inicialmente de pouco sentido para quem estava atento ao grupo brasileiro.
Se Juninho foi sério, João Gordo fez piada. “Só porque ‘nós é’ punk, vamos tocar no escurooo”, brincou, em dado momento. Antes de “Amazônia Nunca Mais”, disse: “Sabe por que a gente está no escuro? Porque hoje é meu aniversário”. A data real é 13 de março. O cantor teve que desmentir, pois o povo começou a cantar “parabéns”.
Que venha alguma luz
Metade do show havia passado quando finalmente um canhão de luz, que depois seria utilizado em um dos integrantes da banda principal, foi direcionado ao palco do Ratos de Porão. A transmissão pelos telões ganhou definição e agilidade. Os integrantes eram mostrados de forma bastante dinâmica, com closes, bem como a bandeira do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que decorava o amplificador de baixo – como habitual, Juninho também usava uma camiseta do movimento.
Não foi muito difícil especular se essa não teria sido a razão do que parecia uma sabotagem. Todavia, o fato de o posicionamento do grupo e de seu baixista serem amplamente conhecidos torna tal opção inviável.
Pelas redes, Gordo explicou: na verdade, tratou-se de uma falha técnica no sistema de iluminação do Slipknot, que “zerou a programação” no geral e afetou sua banda. O guitarrista Jão, por sua vez, cobrou uma retratação pública dos organizadores — o que ainda não aconteceu.
Em contrapartida, a qualidade do som foi das melhores do dia. O baterista Boka deu ritmo à brutalidade do Ratos com camisa florida e cara de quem nada o atrapalha. Jão, com cara de cientista louco e a guitarra que lhe foi presenteada pelo Herbert Vianna (Os Paralamas do Sucesso) nos anos 1990, vale por 10 guitarristas. Consegue não deixar faltar peso no som nem na hora dos solos.
Foi uma das melhores apresentações do primeiro dia do Knotfest Brasil 2024. Pena que nem todo mundo pôde ver.
*Este é um texto somente sobre o show do Ratos de Porão no Knotfest Brasil. A cobertura completa do festival será publicada em breve. Fique de olho no site IgorMiranda.com.br e nas redes, especialmente Instagram.
Repertório — Ratos de Porão:
- Alerta Antifascista
- Aglomeração
- Amazônia nunca mais
- Farsa nacionalista
- Lei do silêncio
- Morrer
- Mad Society
- Crianças sem futuro
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