Por que shows e merch estão mais caros, segundo Bill Kelliher (Mastodon)

Guitarrista mencionou as mudanças do mercado e dificuldades impostas na retomada do pós-pandemia

Com a queda brutal nas vendas de álbuns, os shows se tornaram quase a fonte de renda única para as bandas em tempos recentes. Porém, mesmo esse segmento de indústria vem sofrendo impactos decisivos, especialmente no pós-pandemia. Por conta do cenário, o merchandising ganhou ainda mais importância – leia-se: está mais caro para compensar os danos.

Bill Kelliher, guitarrista do Mastodon, não tenta mascarar a realidade. Em vez disso, o músico propõe um reflexão partindo do evento que mudou vidas em todo o planeta recentemente: a pandemia de covid-19. A declaração foi concedida ao podcast “The Break Down with Nath & Johnny”.

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Disse o artista, conforme transcrição da Metal Hammer:

“Durante a pandemia ninguém fez turnês, muitos lugares fecharam e muitas pessoas mudaram de carreira. Técnicos que trabalhavam para bandas entraram no ramo imobiliário ou conseguiram empregos regulares. Todo mundo estava lutando por dinheiro. Foi um grandioso desastre. Então, houve o efeito cascata da oferta e da demanda. Por exemplo, gasolina, gás. É tudo economia. Tudo depende do transporte.”

Consequentemente, ao contrário do que muitos imaginam, não era uma questão de aceitar qualquer proposta. Cada decisão demandava análise minuciosa.

“Recusamos algumas turnês na Europa só porque basicamente iríamos empatar os custos. E há algumas razões diferentes para isso, porque por um lado, temos a maior produção que já tivemos em nossas carreiras, o que é ótimo. Mas tentar fazer isso na Europa é muito mais difícil. Primeiro de tudo, a gasolina é muito mais cara. Os caminhões são menores, então teríamos que alugar vários, o dobro da quantidade que temos aqui. E motoristas são difíceis de encontrar.”

“A banda é a última a receber dinheiro”

Bill se aprofundou na explicação traçando um paralelo com a disponibilidade de recursos ao fazer uma excursão em casa.

“A última turnê que fizemos nos Estados Unidos, com o Lamb of God, foi um grande sucesso. Mas não podemos ir para a Europa e não fazer a mesma coisa. Se você for para lá só com um pano para colocar no fundo do palco, pode ganhar algum dinheiro. Mas se levar lasers, telões, toda a sua equipe, técnicos, o fogo e tudo mais, não consegue.

E as multidões vão ficar tipo: ‘Oh, que p*rra é essa? Por que vocês não têm isso aqui?’. Não vão compreender o que eu acabei de dizer. Não podemos ir para a Europa por um mês e não ganhar dinheiro, só para fazer shows. Todo mundo é pago. A banda é a última a receber dinheiro.”

Sendo assim, uma solução foi aumentar o preço do merchandising. Porém, Kelliher defende que a decisão não parte dos músicos.

“As coisas estão se recuperando, mas definitivamente houve danos irreparáveis ​​em toda a indústria. As pessoas estão encontrando diferentes jeitos de ganhar dinheiro. Vender material autografado, guitarras usadas no palco… Enfim, vender. Essas são coisas que os músicos estão fazendo agora. E muitas pessoas não entendem. Elas vão até a barraca de produtos e ficam tipo: ‘Ah, as camisetas deles custam US$ 60’. Eles estão apenas nos criticando.”

A explicação é finalizada com um assunto que vem se tornando recorrente, tendo gerado até mesmo campanhas, visando evitar que casas de shows recebam grandes porcentagens das vendas dos produtos.

“Os locais, às vezes, levam de 20% a 30% do seu dinheiro de produtos, mesmo não tendo nada a ver com as vendas. E não deveriam. Além disso, se você toca como atração de abertura de uma banda maior como Slayer, Metallica, Iron Maiden, tem que combinar o preço com eles. Então, há muitas coisas que ficam escondidas do público em geral.”

Mastodon atualmente

Em setembro, o Mastodon finalizou uma turnê norte-americana com o Lamb of God. Na ocasião, a banda tocou o álbum “Leviathan” (2004) na íntegra, enquanto os colegas executaram o disco “Ashes of the Wake”, lançado no mesmo ano. Ao encerramento do giro, foi disponibilizado o single colaborativo “Floods of Triton”.

Agora, o quarteto prepara o lançamento do seu próximo trabalho de estúdio. Sessões de composição já estão sendo realizadas e devem se estender pelos próximos meses. O sucessor de “Hushed and Grim” (2021) deve sair ano que vem.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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